Tem sido angustiante para mim ver chegar e passar o dia de publicar no blog e não ter tido tempo de preparar e revisar os textos dos temas sobre os quais tenho refletido. Se não posso mandar no tempo, tenho que alterar a minha agenda e reorganizar minhas prioridades, abrindo mão de atividades menos essenciais. Então o blog ficará em repouso até 1/1/2015. Será um tempo para eu me reabastecer de novos textos e organizar minha vida, sem esse compromisso que não estou conseguindo cumprir. Além de novos textos, quero preparar também algumas surpresas, e começar 2015 cheia de novidades. Peço sua compreensão, caro(a) leitor(a) e recomendo a leitura (ou releitura) de textos mais antigos, e também dos meus livros! Garanto que será uma forma bastante agradável de esperar pela chegada de 2015. São apenas oito livros (por enquanto) e estão esperando por você aqui mesmo. Boa leitura, e depois me conte o que achou. Nos vemos em 2015!
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
FERRAMENTA
Alguém consegue imaginar um cirurgião –
recém-formado que seja – declarando que gosta muito do que faz mas que não sabe
usar muito bem um bisturi? Como confiar num dentista que comete grandes erros
com a broca? Quem encomendaria a confecção de um armário a um marceneiro que se
atrapalha para usar a serra? O mínimo que se espera de um profissional é que
saiba utilizar suas ferramentas de trabalho. O bisturi é ferramenta do
cirurgião; a broca é ferramenta do dentista; a serra é ferramenta do
marceneiro. Da mesma forma, a língua é ferramenta do escritor. Como aceitar que
escritores – iniciantes que sejam – não saibam usar muito bem o português? Ou
que cometam grandes erros gramaticais? As editoras fazem revisão? Sim, mas os
revisores devem corrigir os deslizes que passaram despercebidos. Não é função
dos revisores reescrever frases inteiras, nem reestruturar o texto, para que
faça sentido. Afinal, como fica a questão da autoria? Reescrever tem tanto
valor quanto escrever. Ser escritor não é apenas inventar excelentes histórias;
é principalmente trabalhar a linguagem para contar essas histórias. Quem
inventa bem é inventor. Para ser escritor, é preciso escrever bem. A língua, as
palavras, com sua sintaxe e semântica, são nossa ferramenta principal, a
matéria prima com que construímos universos, reconstruímos épocas, e contamos
as histórias de nossos protagonistas.
Dúvidas existem (sempre!) Deslizes acontecem.
Ninguém consegue saber tudo, aplicar todas as regras corretamente todas as
vezes. Para isso, existem os dicionários e gramáticas, e até os revisores das
editoras. O trabalho de escrever, revisar, corrigir o texto tem que ser do
escritor. Só a mãe (ou o pai) da criança conhece seu DNA, e deixará o texto
como ele deve ser.
Então, caros colegas, vamos estudar a língua
pátria, nosso amado português, para que saibamos fazer textos que, lapidados e
polidos, brilhem como diamantes.
segunda-feira, 21 de julho de 2014
MAIS TEMPO
Já falei aqui sobre o tempo que eu fico sem escrever nada. Agora é hora de pensar no tempo que levo
para escrever uma história, que vem aumentando nos últimos anos, basicamente
por dois motivos:
1)
as histórias
estão se tornando mais consistentes e mais detalhadas e, portanto, mais longas.
Se, no início, eu fazia um “romance” em 45 páginas, hoje preciso de pelo menos
200. Como a vida toda sempre escrevi, em média, entre 0,3 e 1,4 páginas por
dia, se o número de páginas aumentou, é natural que o número de dias aumente
também.
2)
Minha
disponibilidade de horários livres para a atividade diminuiu. Durante a vida de
estudante – solteira – morando na casa dos pais, eu tinha bastante tampo para
me dedicar a escrever. Mas agora, nessa vida de profissional – casada – mãe,
administrando ainda a vida da casa, minha disponibilidade se resume aos 30
minutos diários dentro do metrô, indo e vindo de meu emprego. Às vezes (como no
momento em que escrevo este texto), aproveito os minutos entre eu acabar de
jantar e minha filha acabar de jantar para, deseducadamente, escrever uma ou
duas páginas, enquanto lhe faço companhia à mesa. Circunstâncias da vida. Não
me queixo.
É claro que eu tenho uma tabela onde registro
quanto tempo levei para escrever cada história. Infelizmente o registro não
está completo porque, bem lá no início, eu não tinha o cuidado de anotar o dia
em que eu escrevi a primeira letra e o dia em que eu coloquei o ponto final. De
qualquer forma, é interessante ver, hoje, que eu levei 13 dias para escrever
A noiva trocada; levei 42 dias para escrever O maior de todos; 2191 dias (seis
anos exatos) para escrever Construir a terra, conquistar a vida; 629 dias para escrever O canhoto; e já estou a mais de 1092
dias (três anos) escrevendo De mãos dadas.
Quando eu começo a escrever, sempre tenho pressa de
acabar. A história está pronta na minha cabeça, e a vontade é de vê-la logo no
papel, de forma escrita.
Por compreender os motivos que me fazem passar anos
com uma mesma personagem – quando eu queria resolver tudo em poucos meses – eu
deixei de me angustiar com esse fator. Minha vida agora é assim e angústia e
revolta não resolverão o problema. Então apenas procuro aliar o número de
páginas de que preciso a todas as brechas de tempo que tenho para produzir com
qualidade e rapidez.
É interessante passar anos com uma mesma personagem
e, além de vê-la amadurecer, amadurecer também junto com ela e melhorar o
estilo de escrita. A vida é assim: perde-se por um lado e ganha-se por outro.
sexta-feira, 11 de julho de 2014
UNIVERSAL NO NACIONAL
Ultimamente tenho pensado como os artistas,
escritores e intelectuais Modernistas (Brasil, início do século XX): para
sermos universais, precisamos primeiro ser nacionais. Por muito tempo, achei
que era bobagem focar nas nossas características nacionais – e, levando ao
extremo, características regionais e até locais. Mas hoje entendo que existe
uma parcela de universal inclusive no local, e as características locais são as
que estão mais próximas de nós, é com quem temos maior intimidade, é o que
sabemos com mais profundidade, o assunto mais fácil de lidar e desenvolver. Eu
descobri que quanto mais se trabalha o pormenor, os detalhes, mais o aspecto
geral aflora. Então, se focamos e damos atenção ao local ou ao regional ou ao
nacional, mais as características do universal se destacam.
Então, colegas escritores, não tenham medo de
escrever sobre seu país, sua região, sua cidade, seu bairro. Há neles um dado
universal que despontará se as características locais forem exploradas ao
máximo. Porque os problemas humanos são comuns a todos, independente de
nacionalidade e de época. Então, minha realidade é apenas um caso especial da
existência humana. Falar do que eu conheço melhor (a minha realidade) é a
ferramenta mais eficiente para abordar as questões de toda a humanidade. E é
assim que, quando um artista ou escritor foca sua produção em sua realidade
mais próxima e pessoal, ele consegue mostrar o que há de universal em cada um
de nós. Falar de um é falar de todos.
domingo, 1 de junho de 2014
CINCO MAIS TRÊS - ANIVERSÁRIOS
Nem sempre as coisas acontecem conforme o planejado
e o desejado. A tarefa de terminar de escrever De mãos dadas hoje se
mostrou grande demais para o tamanho das minhas pernas. Não consegui sequer
terminar a cena importante, longa e detalhada de dezembro de 1927, quanto mais
entrar em 1928, que é quando a história acaba. Bem, “rei morto, rei posto”. Então, se um desejo não foi alcançado, já
ponho outro no lugar: acabar de escrever até o final de 2014. Isso me dá tempo
suficiente para fazer o que tem que ser feito: levar a história até seu final,
voltar para preencher as lacunas que deixei para trás incluir as cenas que
esqueci de escrever, e ler tudo para conferir que não falta nada. E só então
colocar o ponto final. Não dava pra fazer tudo isso em um mês.
Terminar hoje não era realmente fundamental, mas
apenas uma forma de criar uma “curiosidade”: acabar de escrever no mesmo dia em
que comecei, o que faria a conta ficar “redonda” e eu poderia dizer “levei três
anos exatos”. Nada tão importante, na verdade.
Deixando de lado a parte do “não consegui”, falemos
das coisas boas: a história está, sim, chegando ao fim e, portanto, as cenas
finais estão sendo elaboradas em seus detalhes. Dessa forma, o que era apenas
uma linha mestra, uma meta, vai se tornando cena com ações e sentimentos. O “osso”
vai ganhando “carninhas”. Os conflitos restantes estão prestes a se resolver –
o principal na cena longa que estou fazendo. Depois são mais uns meses – até maio
de 1928 – para amarrar todas as pontas e arrematar a história na cena final,
uma cena-resumo que traz elementos importantes do passado e aponta para o
futuro. Estou prestes a me despedir de Toni e dá aperto no coração pensar
nisso. Do meu ponto de vista, são três anos juntos. Do ponto de vista dele, são
quinze anos juntos. Vai ser difícil trancá-lo numa caixa por um ano, tirar férias,
escrever outras coisas, e só voltar a Toni em 2016. Sempre é difícil mas eu
consigo. Foi assim também com O canhoto, Construir a terra, conquistar a vida, Não é cor-de-rosa, Amor de redenção, só para citar os mais
recentes. Afinal, repetindo o “rei morto,
rei posto”, tenho que acabar de diagramar Construir a terra, conquistar a vida e decidi mesmo
escrever o dilema de Rodrigo e sua namorada “pouco convencional”. Acho que vai
ser interessante entrar no universo adolescente contemporâneo (Rodrigo tem 14 anos) e falar
de preconceito, bullying, escolhas de
vida.
Bem, tudo isso é para dizer que hoje é aniversário
do blog. Faz cinco anos que eu venho aqui repartir com vocês meus dramas e
alegrias literários, contar as histórias das minhas histórias e refletir sobre
meu processo de criação. Obrigada a quem me acompanha com regularidade.
Obrigada a quem vem aqui só de vez em quando. O blog não tem sentido sem a
companhia de vocês. Meus leitores são meu presente de aniversário. Parabéns
para nós.
quinta-feira, 1 de maio de 2014
CONTAGEM REGRESSIVA
Estou a um mês do final da escrita de De mãos dadas. Não que a história esteja no fim, mas resolvi tentar acabar no
mesmo dia que comecei: 1/6. Interessante que foi o que aconteceu também com Construir a terra, conquistar a vida, que comecei e terminei em 22/5, com seis
anos de intervalo entre o início e o final. Desta vez, serão três anos, e a
mesma grande quantidade de páginas. Não falta escrever muita coisa. Estou em
setembro de 1927, terminando uma série de cenas importantes e demoradas. Depois
dou uma corrida e me detenho em acontecimentos importantes no mês de dezembro e
janeiro. Depois outra corrida até maio ou junho, ainda não decidi, quando
acontecerá a cena final. Acho que consigo fazer o que falta nesse último mês.
Mas, para isso, tive que parar com minhas leituras, e com todas as outras
atividades: reduzi tempo de internet, interrompi a diagramação de Construir a terra, conquistar a vida, parei de fazer textos para o blog – vocês devem
ter percebido que quase não publiquei em abril, e também não vou publicar mais nada
este mês de maio. Agora Toni é a prioridade e todo tempo que eu tiver é para
terminá-lo. Preciso aumentar minha quantidade de páginas por dia, porque a um
ritmo de meia página por dia eu não vou alcançar a meta de acabar na data
programada.
Bem, então volto aqui em 1/6 para dar notícias. Até
lá.
terça-feira, 1 de abril de 2014
QUASE 30
Eu
tinha planejado publicar hoje um texto falando sobre como foi que eu cheguei à
dedicação ao romance histórico. Escrevi duas páginas inteiras para ao final
concluir que eu não "cheguei" ao romance histórico. Não é o único
tipo de romance que eu escrevo, nem o que eu mais escrevo. Nunca foi e não
acredito que venha a ser, porque não estou fechada a outros tipos de romance,
nem mesmo a outros gêneros. A qualquer momento posso escrever uma história
ambientada na atualidade (como meus dois projetos a escrever assim que eu
acabar De mãos dadas: Amnésia e a História
de Rodrigo), posso escrever um conto (como O Além, escrito em 2010) e - quem
sabe? - até um poema. Não posso nem mesmo dizer que o romance histórico é o que
eu gosto mais de escrever porque, se assim fosse, eu não escreveria outras
coisas - digamos que sou mesmo hedonista quando o assunto é literatura. O que
acontece é que meus últimos romances escritos e publicados por acaso são
históricos, então eles ficam mais presentes na memória.
Depois
de toda essa reflexão, decidi comemorar meus 29 anos de carreira com este texto
curto, sem históricos longos, sem estatísticas. Quanto mais o tempo passa, mais
prazerosamente se torna o escrever, então feliz aniversário para mim!
sexta-feira, 21 de março de 2014
800 PÁGINAS
Por estar lendo Construir a terra, conquistar a vida e escrevendo De mãos dadas, as duas com mais de
500 páginas, percebi como é mais fácil escrever muito quando as personagens
secundárias ajudam a carregar a trama – que é o que acontece em Construir a terra, conquistar a vida,
em que Fernão, Ayraci, Inês e os filhos têm seu momento de protagonismo. Duarte
integra e harmoniza, mas divide o fardo de carregar a história com o resto da
família.
Já a situação em De mãos dadas é diferente: Toni
carrega sozinho a história. Ele não apenas resolve sozinho seus problemas como
ainda participa ativamente da solução dos problemas das personagens secundárias.
Numa atitude “fominha”, ele não abre brecha para mais ninguém ser protagonista,
nem mesmo temporariamente. É bem mais difícil de construir e levar uma história
de longa duração assim. Acho que não conseguiria passar 25 anos com Toni, como
passei 25 anos com Duarte e Fernão.
Em De mãos dadas, as tramas secundárias são
convergentes, e caem todas nas costas do pobre Toni. Em Construir a terra, conquistar a vida, as tramas
secundárias são divergentes e são resolvidas próximo a Duarte e com apoio dele,
mas cada personagem secundária resolve seu próprio problema. E o interessante é
que fazer isto ou aquilo não foi escolha intencional, mas conseqüência do
caminho trilhado. Eu não decidi de antemão, simplesmente aconteceu.
Olhando também para as outras histórias, percebi
que minha tendência é ter protagonistas centralizadores e tramas convergentes.
Quem sabe, na próxima história de longa duração (sete anos ou mais na vida das
personagens), eu não experimento de novo fazer tramas secundárias divergentes,
e ter um protagonista que cede temporariamente seu espaço às personagens secundárias
– mas desta vez, com tudo planejado e intencional. Seria um desafio
interessante.
sábado, 1 de março de 2014
A VOZ DAS PERSONAGENS
Eu prezo muito a correção gramatical, e tomo certos
cuidados no trabalho com meus textos: evito repetição de palavras no parágrafo;
evito aliterações; certifico-me de que as frases estão completas, com sujeito,
verbo e complementos, corretamente ordenados e pontuados; entre outros detalhes
igualmente importantes para que o texto fique estilisticamente bom.
Esse perfeccionismo acaba na hora de fazer os diálogos.
Eu, o narrador em terceira pessoa, não posso cometer erros gramaticais, nem
usar linguagem coloquial. Mas as personagens podem cometer erros e devem usar
linguagem coloquial. Então, enquanto o narrador diz “Toni pegou-a ao colo e
levou-a para o outro lado”, uma personagem estaria sugerindo “Vai lá, pega ela
no colo e leva ela pro outro lado”. O narrador não deve ter a mesma voz que as
personagens, e os diálogos (as personagens) não podem ter a mesma voz que o
narrador em terceira pessoa. Um costuma ser mais formal e o outro deve ser
totalmente informal.
Tenho visto, em sites com as famosas “dicas” para
escrever, a informação de que diálogos são difíceis de se fazer, pelo grau de informalidade
e naturalidade que devem ter. Ora, é justamente por isso que é tão fácil se
escrever diálogos! Ponha-se na pele da personagem e desande a conversar, ora
bolas! Imite o sotaque de sua personagem, faça seus trejeitos. Incorpore: os diálogos
serão informais e naturais.
Outro dia, escrevendo De mãos dadas, fiz um diálogo
em que, a certa altura, Toni diz: “Lá na empresa, eu faço a diferença. O que eu
faço lá ninguém mais faz e isso me faz muito bem”. Assim que reli a primeira
vez, meus sensores já detectaram faço-faço-faz-faz e meu primeiro impulso foi
riscar e corrigir, escolhendo três verbos diferentes para trocar. Mas logo
freei a mão, ao lembrar de que Toni não está lendo e escrevendo: ele está
falando! Mais: ele está argumentando! Ninguém pensa em elegância de estilo
quando defende seu ponto de vista verbalmente. Ainda mais que Toni estudou
apenas o mínimo necessário para fazer seu trabalho. Ele não é um intelectual,
menos ainda um erudito. O gosto dele para leitura é no nível do senso-comum,
sem nenhum refinamento. Ele nem gosta de poesia. Nem sei se ele lê o jornal do
dia. Então, se eu corrigisse as repetições da fala dele, o resultado seria
artificial e arriscaria até ser pedante. Poderia ficar assim: “Lá na empresa,
eu sou o diferencial. O que eu realizo lá ninguém mais faz, e isso me agrada
muito”. Sem repetições, mas não é o meu Toni falando. Então, ao mesmo tempo em
que eu me esforço para narrar “Entregou-lhe o livro pedido” (ênclise correta),
minhas personagens pedem “Me dá aqui esse livro” (próclise no lugar errado).
O segredo para dar a voz correta às personagens nos
diálogos é bem simples: o autor precisa saber vestir muitas peles; pensar,
sentir, agir e falar como cada uma de suas personagens, de preferência todas ao
mesmo tempo. E precisa saber sair de todas essas peles na hora de usar um
narrador em terceira pessoa. No começo, pode não ser fácil de se fazer mas,
depois que se pratica, os diálogos se tornam a parte mais simples e prazerosa
de se escrever.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
EM COMUM
Neste ano de 2014, continuo envolvida com Construir a terra, conquistar a vida e De mãos dadas. São minhas maiores
histórias, e parei para pensar se elas têm em comum algo mais do que o número
de páginas.
Sim, alguns elementos estão presentes nas duas histórias:
1)
são
ambientadas no Brasil. Acho que gosto de falar da história do meu país.
2)
São romances
históricos (conferir a definição que utilizei aqui), o que
significa que os fatos históricos fazem parte da história das personagens, e
interferem nos rumos do que estou escrevendo.
3)
As personagens
vivem em cidades que hoje são importantes e capitais de seus estados – Duarte no
Rio de Janeiro e Toni em São Paulo.
4)
São histórias
de longa duração – Construir a terra, conquistar a vida leva 25 anos e De mãos dadas, 15 anos.
5)
Duarte e Toni
são pessoas simples, do povo, interessados em trabalhar e ganhar seu sustento
6)
Duarte e Toni
não se envolvem em questões políticas, mas são envolvidos pelos eventos históricos
de suas cidades, e participam deles de alguma forma (Duarte mais ativamente do
que Toni, que é levado)
É claro que nada disso explica o grande número de páginas
de ambas, pois O canhoto também é um romance histórico de longa duração (sete
anos), com um protagonista do povo envolvido meio contra-vontade nos fatos históricos
de sua época. Mas também não estou procurando justificativa para nada. E o
motivo de tantas páginas é muito simples: algumas histórias são maiores do que
outras mesmo, e não há nada de mais nem em ser grande nem em ser pequena.
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
BONECAS DE PAPEL
Sempre gostei muito de brincar de boneca. Susies e
bonecas menores, bichinhos de látex, bonecas de papel. As bonecas formavam
grupos familiares e de amigos e interagiam entre elas, em tramas que iam se
construindo durante a brincadeira, que muitas vezes durava dias e semanas.
Na infância, a brincadeira era concreta. Era necessário
manipular a boneca, articulá-la, fazê-la andar, pegar coisas, se mexer, para
que a ação acontecesse. Ora, bonecas de papel não são articuláveis, e nem mesmo
ficam de pé sozinhas. Elas não têm a corporeidade de uma boneca de plástico.
Então algumas ações executadas pelas bonecas de papel, pela impossibilidade de
acontecerem de fato, aconteciam apenas na minha imaginação, e mediadas pela
linguagem (eu dizia que a ação estava acontecendo e ela estava, pelo poder da
minha palavra).
Mas a gente vai crescendo e abandonando os
brinquedos. As bonecas de papel resistiram mais tempo. Eu tinha vários
conjuntos de bonecas e, dependendo do humor, brincava com um conjunto ou com
outro, e as histórias que eu construía com as bonecas na adolescência duravam
dias, semanas e meses.
Lembro de uma época, na adolescência, em que eu
apenas dispunha as bonecas no chão, uma do lado da outra, e a brincadeira
acontecia toda mentalmente: eu olhava para a boneca, tocava nela, e tudo o que
eu queria que ela fizesse acontecia dentro da minha cabeça. Até o dia em que eu
não precisava mais manuseá-las, nem olhar para elas para que elas se mexessem e
interagissem. Introjetá-las em minha mente me deu total liberdade para brincar
com elas a qualquer hora do dia e da noite, para mudar a aparência e a
personalidade delas.
E até hoje, quando não estou escrevendo nada,
recupero Pedrinho & Lisa (esses da foto) na minha mente e brinco com eles e
com os companheiros deles, inventando situações prováveis e improváveis. Às
vezes a trama fica boa e eu transformo em história. Troco os nomes, modifico a
aparência e pronto: elaboração de personagens concluída.
A brincadeira começou concreta e foi ficando
abstrata. Ganhou estrutura literária e forma escrita. Muita coisa mudou na
maneira de caracterizar as personagens. Mas, para mim, escrever romances é como
brincar de bonecas de papel: uma brincadeira levada a sério, ou uma atividade
profissional divertida como uma brincadeira favorita.
sábado, 1 de fevereiro de 2014
CLÍMAX
O clímax é a cena principal de uma história. É a
cena em que o conflito se resolve, de um jeito ou de outro. Tudo o que
aconteceu desde o início da história deve conduzir ao clímax e, depois dele, só
resta arrematar todas as pontas e encerrar a história.
Por ser a cena mais importante, ela deve ser plena
de ações e/ou emoções para as personagens, de forma a empolgar o leitor. Nos
contos, o clímax em geral é o final da história. Nos romances, nem sempre. Nos
romances, após o clímax, em geral há uma parte de ação descendente, até se
chegar ao final. É uma característica minha fazer longos desfechos porque
sempre tenho muitas pontas a arrematar – dar solução à vida de todos os secundários.
A cena do clímax, em De mãos dadas ficou com
11 páginas, e levei sete dias para escrevê-la inteira, com todas as releituras
necessárias, correções, reposicionamento de falas. Agora é só conduzir Toni e
Rosa ao final da história, projetando para o futuro, sem esquecer de resolver a
vida das outras personagens. Estou na página 650 e, dada minha característica
de escrever desfechos longos – e porque há muitas pontas a arrematar – acho que
acabo de escrever com mais umas 300 páginas.
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
TENHO UM TÍTULO
Estou ainda no mês de junho de 1927, e o clímax da História de Toni só vai acontecer em
agosto. Escrevi cenas de fúria, de inveja, de ternura, de tristeza e dor. O clímax
vai ser uma cena tensa, com tudo isso e mais um pouco, mas será como
tempestade: descarregadas as nuvens, ainda que com violência, o sol voltará a
brilhar, ou seja, tudo será resolvido, encaminhando para um final feliz ou para
um final infeliz, não vou contar. Só o que posso adiantar do final é que será
trágico: “que não pode ser de outra forma”.
O clímax e o final da história estão definidos
desde antes de eu começar a escrever; desde antes mesmo de eu começar toda a
pesquisa prévia (que, para esta história, durou um ano). A decisão de começar a
escrever aconteceu justamente porque eu já tinha um clímax e um final que me
agradavam. Então essas cenas vêm rolando na minha cabeça pelo menos desde 2010.
Agora, que estou mais próxima de escrever o clímax, venho detalhando-o,
escolhendo palavras, frases e gestos para expressar o que eu quero. E foi assim
que o título da história me veio.
Não, o título não tem a ver com o clímax,
simplesmente. Não gosto que títulos que contam o final da história; acho que
perde a graça. Mas agora eu já conheço melhor as personagens principais – Toni e
Rosa – já sei do que elas gostam, o que valorizam, o que é significativo para o
amor deles. Foi elaborando o clímax, e com a história toda na cabeça, que eu me
dei conta de um gesto que marca o amor de Toni e Rosa desde a primeira página –
e eu botei lá de propósito – e que se faz presente em referência mesmo quando
eles estão afastados um do outro: mãos dadas. Então, essa história, que tinha
nome de Rosinha, e que eu vinha
chamando de História de Toni, agora
tem um título de verdade: De mãos dadas. Estou satisfeita com
essa solução e, agora que virou título, vou reforçar ainda mais a importância
desse gesto ao longo de toda a história.
Os
textos antigos do blog ficarão como estão, “sem título”, assim como foi com Não é cor-de-rosa, quando deixou de ser Fábrica.
Mas, a partir de agora, tenho um título para me referir a essa história que está
me dando tanto trabalho e alegria de escrever.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
2014, AFINAL
Primeiro dia do ano é propício a um balanço do que
aconteceu no ano anterior, e a traçar metas para o ano atual. É o que tenho
feito todos os anos, e o que pretendo com este texto também.
2013 foi um ano difícil em termos de resolver a
equação “quantidade de coisas a fazer” / “quantidade de tempo disponível”. Este
ano de 2014 a situação não deve ficar muito diferente, pois eu continuo
envolvida com meus dois “gigantes”: Duarte e Toni. Em relação a Duarte, penso
que consigo resolver tudo este ano, com uma linda publicação. Já Toni está mais
complicado, pois ainda tem muita, muita coisa para acontecer, então estou
chegando à página 600 sem perspectiva de final. Comecei 2013 escrevendo a página
294 e hoje vou completar a página 598, o que significa que, em 2013, eu escrevi
304 páginas, muito mais do que em 2012, quando escrevi apenas 194 páginas.
Realmente já tinha percebido que este ano a carga de trabalho foi bem maior...
Por conta dessa falta de tempo, abandonei quase todos
os grupos de discussão, só restando o Fórum Escreva Seu Livro, onde ainda vou
nem que seja para ver o que estão dizendo meus amigos. Percebi que muitas
pessoas usam as comunidades literárias apenas para se promoverem e fazerem
propaganda de seus livros e seus blogs, e não para falar de literatura,
discutir técnicas e processos – que é o meu interesse, e do pessoal do Escreva Seu Livro. Então me afastei das “comunidades-classificados” para não perder meu
raro tempo com o que não me interessa.
Os blogs dos amigos, infelizmente, ficam no final da
minha lista de prioridades e, por isso, não sobra tempo para eles. Mas meus favoritos são os meus parceiros, ou os que coloquei na lista de blogs desta página. Em 2013 não
tive tempo nem para desenvolver os textos do blog! Em 2012 e 2013 eu me propus
e começar a fazer leitura crítica, mas é algo também que a falta de tempo não
permitiu.
Então, sem sonhos de grandeza, e esperando colocar
o chapéu somente onde minha mão alcança, anuncio minhas metas para 2014:
1)
publicar e
lançar Construir a terra, conquistar a vida;
2)
continuar
escrevendo A história de Toni (ah, já
quase tenho um título para ela. Sabia que o retorno de Rosa à trama me ajudaria
nesse ponto);
3)
escrever para
o blog mais do que notícias de em que ponto da história estou, e publicar com a
regularidade prometida (dias 1, 11 e 21);
4)
continuar
conversando sobre literatura com pessoas interessantes (que não estão só no Fórum).
Enquanto isso, Feliz Ano Novo a meus leitores e
amigos.
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Um pouco sobre mim
- Mônica Cadorin
- Mestre em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se à literatura desde 1985, escrevendo principalmente romances. É Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia - Casa Raul de Leoni desde 1998 e Membro Titular da Academia de Letras de Vassouras desde 1999. Publicou oito romances, além de contos e poesias em antologias. Desde junho de 2009 publica em seu blog textos sobre seu processo de criação e escrita, e curiosidades sobre suas histórias. Em 2015, uniu-se a mais 10 escritores e juntos formaram o canal Apologia das Letras, no Youtube, para falar de assuntos relacionados à literatura.