terça-feira, 21 de julho de 2009

MEU PROCESSO DE CRIAÇÃO

Sou viciada em inventar histórias, em imaginar cenas. Viciada mesmo: não consigo dormir sem criar um pedacinho de alguma coisa, algum início ou alguma continuação. Por isso tenho tantas histórias inventadas, mesmo que não tenham fim.

Então, em geral, as histórias começam assim: eu pego algumas personagens, um evento em que elas se encontrem, e um conflito e fico elaborando o que se pode fazer com esses elementos. A caracterização das personagens e o ambiente em que os eventos acontecem vão tomando forma aos poucos, à medida que a história avança. Enquanto estou satisfeita com os resultados, vou progredindo, até chegar em um final. É quando acontece a primeira avaliação: eu me pergunto se as personagens são consistentes, se a caracterização está bem feita, se o final me agrada, se a trama está bem estruturada, se a ambientação é coerente, se eu posso mudar a ambientação sem prejuízo da trama, se as cenas que fiz conduzem naturalmente ao final, ou se andei usando deus-ex-machina em excesso. Se todas as respostas forem satisfatórias, eu passo à fase de pesquisas e escrevo a história.

Depois vou escrevendo e inventando. Mesmo que a cena já esteja mentalmente desenvolvida, ela ainda sofre alterações na hora em que vai para o papel, pois é quando procuro as melhores frases, encontro e substituo palavras repetidas, e quando a idéia torna-se de fato real. A invenção e a escrita acontecem num constante fluir, que se reinventa para fluir novamente. Eu faço e refaço a mesma cena várias vezes antes de escrever, fico testando possibilidades de fala, de gestos e de interferências antes e durante a escrita – o processo mental é extraordinariamente rápido – e depois leio e releio várias vezes antes de cada avanço. Às vezes modifico; às vezes apenas pego o gancho para seguir adiante.

Como escrevo muito dentro do metrô, às vezes chego à estação em que vou descer com muita coisa inventada ainda por escrever, e é difícil depois lembrar das frases exatas que eu tinha pensado naquela hora. Então ultimamente comecei a andar com um gravador de MP3 onde registro a cena até o final. Depois o trabalho é só de transcrever. Essa idéia de gravar as cenas na hora em que as invento é antiga, e já me fez desejar um gravador de pensamentos, que cumpriria a função melhor do que um gravador de voz, mas só neste último ano, com a disseminação dos gravadores de MP3 (inclusive menores do que os velhos gravadores de fita cassete), pude começar a por em prática essa idéia. Funcionou bem em O canhoto, e pretendo continuar usando nos próximos romances que escrever.

4 comentários:

  1. Monica,

    também já tinha conferido seu blog no site do sala das letras, ia comentar na sexta, mas num consegui, então aproveito para agradecer sua visita e suas palavras.

    Como você eu também sou viciado em criar imagens e situações, gosto muito de poesia também, então fico bricando de misturar os dois generos.

    Visitarei seu blog direto, pois gostei bastante. É sempre bom ter alguém pra trocar idéias.

    Abraços.
    André

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  2. Estive por aqui aprendendo um pouco com você! Aabraços Ademar!!!

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  3. Anônimo4/1/10 14:59

    Monica, sempre achei o suas ideias semelhantes as minhas, mas agora, vejo que somos muito parecidos. Quer dizer, eu pareço com você... Afinal, você escreve bem mais, eu sou apenas um amador se jogando em outros mundos.

    Boa ideia essa do gravador mp3, sempre pensei em usar um, mas sempre achei que pareceria muito idiota ou esquisito (mais do que já sou considerado). Então como ando muito de carro, ninguem notária eu falando sozinho, hehehehe.

    Continue com o bom trabalho, os escritores e escritoras modernas dependem disso.

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  4. Demetrios
    Se alguém olhar enviezado para você por causa do gravador de MP3, empine o nariz e explique: "Estou registrando uma idéia para meu novo livro. Sou um escritor, sabe? Não me conhece? Ah, então tem que conhecer." Aí você aproveita para vender um livro, ou dar o endereço do seu blog. Acho que tenho que começar a falar mais alto na rua, para ver se isso acontece comigo. rsrsrsrs
    Fico feliz que minha experiência esteja sendo útil para você. A cada dia tenho idéias para novos textos, então vou continuar com meus depoimentos ainda por um bom tempo.
    Um abraço
    Mônica

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Um pouco sobre mim

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Mestre em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se à literatura desde 1985, escrevendo principalmente romances. É Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia - Casa Raul de Leoni desde 1998 e Membro Titular da Academia de Letras de Vassouras desde 1999. Publicou oito romances, além de contos e poesias em antologias. Desde junho de 2009 publica em seu blog textos sobre seu processo de criação e escrita, e curiosidades sobre suas histórias. Em 2015, uniu-se a mais 10 escritores e juntos formaram o canal Apologia das Letras, no Youtube, para falar de assuntos relacionados à literatura.

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