quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Entrevista a Rainer - parte 2
domingo, 11 de dezembro de 2011
SURPRESAS E IMPREVISTOS
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
RELATÓRIO DE PROGRESSO – 6 MESES
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Entrevista a Rainer - parte 1
Após o lançamento de Primeiro a honra, em julho último, fui entrevistada por Rainer Guggenberger, estudante de filosofia austríaco (xii, não sei de que universidade ele é...) Foi uma experiência nova e intrigante, pois ele buscou relacionar meu texto a textos de autores da literatura e da filosofia internacional – algo que eu não faço conscientemente. Para responder às questões dele, tive que refletir e buscar explicações para coisas que eu simplesmente fiz sem pensar. Foi um desafio e tanto, que agora começo a dividir com vocês. Não poderei publicar a entrevista inteira, porque, em algumas respostas, eu falo de aspectos importantes do meio e da conclusão do livro, e estragaria o prazer do leitor descobrir tudo por si mesmo, ou de me esperar contar. São ao todo 23 perguntas, mais considerações finais, então vou publicando um pouquinho de cada vez, e somente as perguntas mais gerais, que não contam o fim do livro.
1) Você tem a sua própria editora chamada MôniCadorin que oficialmente se chama “Edição do Autor”? Como é publicar no Brasil um romance por conta própria? Qual é o seu motivo e qual é o seu objetivo ao publicar os seus romances?
Sim, eu faço publicação independente, por minha conta, sem editora (empresa). Sou cadastrada na Agência Brasileira do ISBN como editora-pessoa-física, o que me permite ser editora de meus próprios livros. Como já tive uma editora (empresa familiar) e eu era a responsável por toda a produção editorial e gráfica - ou seja, pela produção do livro propriamente dita, depois que minha editora fechou, escolhi continuar eu mesma cuidando da publicação dos meus livros. Para mim, a parte mais difícil de todo o processo é a divulgação e a distribuição, uma vez que não sou empresa e, portanto, os meios utilizados pelas editoras não se abrem para mim.
Percebo que o mercado editorial no Brasil, atualmente, é composto por 1) editoras chamadas "grandes", que escolhem que livros vão publicar e arcam com todos os custos. Em geral, elas publicam autores consagrados, sejam nacionais ou estrangeiros, pois dependem do sucesso de vendas para conseguirem recuperar seu investimento, uma vez que trabalham com grandes tiragens (acima de 2000 exemplares) para reduzirem o custo unitário do exemplar impresso. 2) editoras chamadas "pequenas", que podem ser contratadas pelos autores para terem seus livros publicados. Nesse caso, o autor paga pela publicação de seu livro, e a editora entra com todos os serviços, desde a revisão do texto até a distribuição e venda nas livrarias. Essas editoras trabalham com tiragens pequenas (abaixo de 500 exemplares), conforme os pedidos do autor e das livrarias. 3) editoras chamadas "on-demand", que fornecem espaço para o autor divulgar seu livro na internet. O próprio autor faz a diagramação e a capa, e utiliza ferramentas no site da editora para preparar seu livro. Nesse caso, os livros são impressos um a um, conforme as vendas do site, e somente nesse caso autor e editora recebem. Como a tiragem é unitária, o preço do exemplar fica bastante caro. 4) a outra alternativa que o autor tem, portanto, é ser seu próprio editor, e foi o caminho que eu escolhi. Nesse caso, é importante que o autor tenha uma rede de leitores formada, e eu considero prudente trabalhar com tiragens pequenas, conforme a expectativa de venda.
A expressão "Edição do autor" é exigência da Agência do ISBN, pois, uma vez que eu não me constitui em empresa, não me cabe usar oficialmente um nome-fantasia. É por isso que, na folha de rosto e na ficha catalográfica constam essa expressão, enquanto que, na capa, onde eu posso "inventar", me dei ao direito de usar minha assinatura (MôniCAdorin - que é uma contração de Mônica de Almeida Cadorin) e a logomarca que tinha sido feito para minha editora (que fechou antes de usar a marca).
Publicar meus romances para mim é consequência de escrevê-los. Não posso negar que é realização de um sonho ver a ideia que eu tive e escrevi sendo lida e comentada pelas pessoas. É gratificante ver amigos, colegas e até pessoas que não conheço pessoalmente envolvidas com uma história que eu escrevi, e isso só é possível com a publicação. Eu acho cansativa a leitura na internet, e acho que o livro de papel ainda tem lugar no imaginário das pessoas; por isso gosto de publicar em papel. Com o desenvolvimento da tecnologia do e-book, penso em estudar o assunto e talvez lançar meus livros também nesse formato, sem abrir mão do papel, pelo menos por enquanto.
Essa questão das datas realmente parece confusa, não? Essa história foi criada em 2 de junho de 1995; eu comecei a escrever em 4 de junho de 1995 e terminei de escrever em 9 de agosto de 1995 (data no final do livro). Seguindo as minhas próprias regras (veja o texto do meu blog), a história ficou guardada por um ano, depois do qual, eu reli, considerei boa e digitei. Quando estava pronta, levei para o Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional e a registrei (data do copyright - 1996). Em 2010, comecei o processo de publicação com o registro do livro na Agência Brasileira do ISBN, mas a publicação só ficou pronta no início de 2011, pois, depois do registro, é necessário ainda pedir a ficha catalográfica, revisar a diagramação, conferir as medidas da capa, mandar os arquivos para a gráfica e receber o livro impresso, e tudo isso levou tempo. Ainda tive alguma dificuldade em escolher o local para o lançamento, e precisei de tempo para planejar e organizar todo o evento, por isso o lançamento só aconteceu em julho de 2011. O intervalo de tempo entre o registro e a publicação se deveu ao fato de que, em 1996, eu não tinha uma editora que fizesse a publicação para mim, e ainda não tinha tido a experiência de ter uma editora própria. Com a minha extinta editora, publiquei meus seis primeiros livros, entre 2002 e 2008 (todos escritos antes de "Primeiro a honra") e foi preciso primeiro definir se a editora ia mesmo fechar para que eu pudesse decidir se faria a publicação por minha conta ou se procuraria uma outra editora que fizesse o trabalho.
Todas as minhas histórias têm muito de mim. Todas são símbolos do meu inconsciente, que consegue assim se expressar e sublimar suas angústias. Tenho muitas histórias que me vêm em sonhos, mas não todas. O sonho é apenas uma ferramenta, mas não a única, nem a melhor. Uma história baseada num sonho não é mais autêntica do que uma ideia que me venha acordada, inclusive porque todas as ideias são elaboradas e trabalhadas até virarem uma história coerente, com estrutura completa, personagens interessantes, ambientação detalhada, e tudo o que é necessário para se contar bem uma história.
A história mais antiga se chamava simplesmente "Idade Média". Foi criada em fevereiro de 1986 e chegou a ser escrita. Nela, a personagem feminina se casava com seu prometido (já que o amado morria), mas só conseguia se sentir feliz quando arranjava outro para ocupar o lugar de seu amado, configurando portanto adultério. Tinha algumas falas interessantes, mas era muito inconsistente e tinha problemas graves de caracterização e, por isso, encontra-se hoje descartada (ou seja, guardada numa caixa marcada para não ser publicada). A releitura do tema não foi intencional. Às vezes acontece no meu processo de criação: uma história que não deu certo retorna com uma roupagem diferente para trabalhar o mesmo tema que, nesse caso, é a perda do amado e a superação dessa perda. Os problemas vividos por Isabelle (de Idade Média) e por Rosala (de Primeiro a honra) são muito diferentes, e também as soluções que elas encontram, mas as duas conseguem encontrar um novo amor que, se não ocupa completamente o lugar deixado pelo amor que se foi, pelo menos as faz acreditar que ainda é possível amar.
Quando inventei, essa história acontecia lá pelo século XIII, ou XIV, em Orléans, Reims e Paris. Mas, no meu processo de escrita, depois que a estrutura e a caracterização estão prontas, eu cuido de estudar o ambiente escolhido, e foi quando achei que já tinha inventado e escrito (embora quase tudo já estivesse descartado) muita coisa nessa época pós-carolíngia e eu sempre tive vontade de ambientar uma história na época pré-carolíngia, então achei que era minha chance de realizar esse desejo. Tenho um vínculo afetivo forte com a França e com a Idade Média, talvez pela forma como o assunto me foi apresentado na escola, ou pelos contos de fadas lidos na infância, ou pelos livros e filmes de fantasia, cujo imaginário sempre é a Europa medieval, ou por tudo isso junto. Então, quando tenho uma ideia que precisa ser ambientada no passado, meu primeiro destino é a França Medieval. Se a história ficar boa, então procuro outro lugar e outra época possíveis, para não ficar sempre falando das mesmas coisas, mas às vezes o vínculo entre caracterização e ambientação é tão forte que não consigo quebrar, especialmente num caso como esse, que eu descobri que era releitura de uma história mais antiga, que se passava na França durante a Idade Média. Achei que seria interessante escolher um momento em que a estrutura da legislação não fosse tão forte, e que assassinatos pudessem ficar socialmente impunes, restando ao ofendido apenas a alternativa da vingança, e me pareceu que um reino em construção me ofereceria essa possibilidade - por isso os primeiros anos do reinado de Clodoveu. Paris era necessária por ser a capital do reino, onde estaria Toulière, cavaleiro do rei. Estudando, descobri que a capital de Clodoveu era Soissons, então movi o alvo para essa cidade. Diante disso, não podia mais usar Reims, pois fica muito perto de Soissons, e eu queria que Rosala fizesse uma pequena jornada entre a casa de Rudbert e o objetivo de sua vida. Como Paris já vinha sendo usada, a família de Rudbert deixou de ser Rèmi para ser Parisii. Orléans me servia por ser uma cidade que existia na época, fica a sul tanto de Paris como de Reims e Soissons, e perto da fronteira do reino. Nenhuma das cidades estava no meu sonho, e nem mesmo a época: são escolhas conscientes que eu faço depois, quando estou transformando o sonho em história. A pesquisa é feita mesmo toda no Brasil, com o auxílio da maravilhosa internet, que me fornece textos em português, inglês e francês (nesse caso específico, eram as línguas que me interessavam), além de imagens das cidades e da paisagem, e mapas atuais e da época que estou estudando. Também pesquisei em livros sobre história da moda, para saber o que as pessoas estariam usando - isso era muito importante para ajudar na caracterização contrastante de Rosala e Ailan. Conto também com minha formação em história da arte, que me permite conhecer a arquitetura e os objetos decorativos da época, além de noções de história, sociologia, filosofia e religião, que eu complemento com leituras específicas sobre as datas e cidades escolhidas.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
DIÁLOGOS
O uso de diálogos é, portanto, uma ferramenta importante não apenas para fazer as personagens se comunicarem, mas também para passar informações para o leitor de uma forma interessante, quebrando a monotonia da voz do narrador.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
CONTEXTUALIZAR
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
ANTES DE COMEÇAR – O PROJETO
terça-feira, 11 de outubro de 2011
RELATÓRIO DE PROGRESSO – 4 MESES
sábado, 1 de outubro de 2011
AMADURECER O AUTOR
Quando eu comecei a escrever, lá no final do século XX, não existia computador pessoal, e a Internet ainda era uma admirável forma de comunicação entre universidades e talvez alguma outra instituição ou empresa. As chances de você encontrar um colega escritor – iniciante ou experiente – eram bem escassas. Para agravar meu isolamento, eu morava em São Luís – MA e, embora se diga que “quem dorme em São Luís acorda poeta”, eu não tive o prazer de conhecer nenhum escritor nos cinco anos em que morei lá. Além do mais, eu era uma adolescente tímida, com muito pouca vida social, e não me lembro de eventos literários acontecendo na cidade.
É bem verdade que, aos 18 anos, eu estava no Rio de Janeiro, cursando Educação Artística e participando de tudo o que podia: vernissages, exposições, palestras, peças de teatro, filmes, óperas, concertos. Mas era difícil encontrar os pares literários. Autores experientes dão palestra mas, em geral, não se interessavam por ouvir uma adolescente principiante.
Mas essa historinha é para dizer que eu não tinha outros escritores a quem mostrar meus primeiros escritos, como vejo acontecer hoje, graças à Internet. Minhas amigas queridas adoravam tudo o que eu escrevia (ou não) mas não tinham experiência nem de vida nem de literatura para me indicar falhas, defeitos, incoerências, erros. Eu tive que aprender sozinha. Em 1989, quando eu fiz a primeira avaliação dos meus textos, eu percebi como eu havia melhorado, como eu estava mais experiente e amadurecida, e como muitos textos não resistem ao tempo, enquanto outros – os melhores, é claro – só precisam de ajustes para continuarem sendo considerados bons.
Quero dizer com isso que o que me fez chegar onde estou não foi a crítica alheia, mas a minha própria crítica. Então, quando hoje vejo novos escritores pedindo comentários dos outros, fico pensando se a opinião externa é assim tão importante. Isso porque os leitores podem até apontar algumas questões pertinentes, mas cabe ao escritor refletir sobre suas fraquezas e encontrar seu caminho sozinho. Amadurecer é um processo solitário, como comer, sentir, nascer, morrer. Ninguém pode fazer isso por você e, se você não estiver pronto, nenhuma opinião externa vai ajudar. Crescer é um processo lento e sofrido, e algumas pessoas não suportam a dor – por isso não conseguem crescer. Dói olhar para trás e ver que muito do que eu fiz era ruim. Dói descartar vidas que eu vivi, filhos queridos que tão boa companhia me deram. Mas, se a trama é inconsistente, se a caracterização das personagens é falha, se o texto não foi bem trabalhado – e agora sou capaz de perceber tudo isso! – então não adiante mantê-las com vida. Aos poucos, a gente aprende também a superar as perdas; a levantar após cada queda e seguir adiante; a amar os mortos porque um dia estiveram vivos, em vez de lamentar por não estarem mais vivos.
Essa é a minha trajetória. Aprendi apanhando de mim mesma; lendo e relendo meus textos e criticando-os mais severamente do que qualquer leitor faria; escrevendo e re-escrevendo, quase doentiamente, até que meu público-alvo (eu mesma) ficasse satisfeito com o resultado.
Sorte de quem está começando agora ter a Internet tão cheia de grupos e oportunidades, e poder encontrar pessoas com quem trocar idéias e leitores que indicam pontos inconsistentes a serem melhorados. Com essa ajuda, esses jovens poderão re-escrever mais, e assim alcançar mais cedo um bom nível de maturidade. É claro que precisam ser humildes para aceitar a opinião de outra pessoa, precisam refletir sobre as questões apontadas e buscar as melhores soluções. Mas não basta mudar uma passagem porque alguém falou. Não. É preciso compreender porque foi feito daquela forma, como corrigir (se for o caso) ou como justificar que tenha sido feito daquele jeito; e como evitar o erro (ou aprender a justificá-lo) no futuro. Não tem jeito: amadurecer é um processo individual e solitário.
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quarta-feira, 21 de setembro de 2011
AMADURECER O TEXTO
Tenho muita desconfiança das pessoas que acabam de escrever um livro e já saem procurando publicação – quando não publicam os capítulos em seus blogs particulares, à medida que vão escrevendo. Eu não consigo. Não considero que o texto esteja pronto quando se põe o ponto final. Acho que essa é a hora em que o trabalho vai de fato começar. Acho que nesse momento estamos diante de um diamante bruto, que ainda precisa ser bem lapidado e polido para que se torne um brilhante da melhor qualidade.
Ultimamente tenho visto alguns textos de colegas de comunidades que parecem exatamente isso: belos diamantes, mas em estado bruto. A pressa na publicação e no retorno dos leitores (“comentem por favor”) faz que os textos sejam publicados até com erros de digitação e gramática. Às vezes a compreensão da mensagem fica prejudicada por um texto truncado, mal pontuado e mal explicado. Acredito que na maioria das vezes isso acontece porque o botão “Publicar” é apertado antes que o autor releia o que digitou. Isso é muito grave, pois essas pessoas estão considerando que seus textos recém-escritos estão prontos: que seus diamantes são brilhantes. Então recebem comentários vagos de “que lindo”, ou “adorei”, ou o extremo oposto “que porcaria”, ou “aprenda português antes de escrever”. Quando eu comento, procuro apontar as inconsistências, e que há erros de português. Às vezes são coisas simples, que bastava o autor reler para corrigir. Então essa pressa expõe o autor ao público com um texto que ainda não está pronto, que ainda tem muito o que melhorar.
Quem faz isso, em geral, são pessoas que estão começando agora, e estão ainda procurando seus caminhos e descobrindo o próprio estilo. É preciso não apenas ler, mas reler, re-escrever, afastar-se do texto para depois retomá-lo, analisar sintaticamente e estilisticamente, procurar clichês e sempre que possível eliminá-los, afastar-se novamente, retomar, analisar tudo de novo, buscando sempre aproximar o texto da perfeição.
Nossa, mas isso é trabalho para meses! –alguém poderia observar. E eu respondo: SIM! Todo o processo de criação, escrita e amadurecimento pode levar na verdade ANOS! E então eu pergunto: há algum problema nisso? Você não gosta do seu texto? Quer livrar-se dele o quanto antes? A publicação no Brasil é difícil, então é melhor você chegar na editora com um texto que encante o editor e não dê trabalho para virar livro.
Sei que minha escolha é um pouco extrema, pois posso levar meses elaborando e fazendo a pesquisa prévia; depois posso passar mais de um ano escrevendo; depois de pronto, o texto fica guardado por um ano (o tempo que eu preciso para esquecê-lo), e só depois eu releio, avalio, analiso, digito re-escrevendo, releio, e ele fica guardado até chegar a vez de ser publicado. Enquanto isso, continuo relendo, corrigindo, re-escrevendo o que for necessário. Acho que eu me sentiria confortável em procurar publicação para um texto meu somente um ano depois de tê-lo digitado, pois minha fase de polimento só começa após a digitação. Isso significa pelo menos dois anos depois do ponto final. Por sorte (na verdade, por circunstâncias várias), tenho uma longa fila de publicação e meu próximo livro a ser publicado (A noiva trocada) foi escrito em 1996 e vem sendo lapidado e polido desde então, o que me deixa tranqüila de que ele está mesmo pronto para ser publicado.
Outros textos relacionados:
domingo, 11 de setembro de 2011
A MATURIDADE
Um dia, numa das minhas comunidades literárias favoritas, me irritei e meio que “subi nas tamancas”, e por isso resolvi escrever um texto sobre o assunto, mas acabei escrevendo três textos relacionados (este e mais Amadurecer o texto e Amadurecer o autor). A motivação desses textos é que tenho lido muitos textos de jovens colegas que encontro nas comunidades do Orkut e em outras comunidades e fori, que estão começando suas trajetórias agora e acabo ficando indignada com um ou outro, pois demonstram ser talentosos, com idéias interessantes, mas se apressam em mostrar textos recém-escritos, não revisados, inconsistentes e até incoerentes. Eu acabo me sentindo na obrigação de dizer “colega, sua idéia é ótima, mas o texto deixa a desejar”. O conteúdo é bom mas a forma atrapalha. É o trabalho da língua escrita – o objetivo da profissão do escritor! – que puxa o tapete da juventude. Isso acontece pela falta de hábito de escrever – sim, porque estão começando agora! São pessoas com dois ou três anos de carreira, talvez até menos! E foi essa minha indignação que me levou a refletir sobre como amadurecer um escritor e como amadurecer um texto. Como eu não sei da vida dos outros, tratei de pensar na minha vida, e em como esse processo de maturidade vem acontecendo comigo. Por gostar de números e tabelas, levantei a informação de quantas histórias eu já escrevi na vida, para ter chegado no ponto em que cheguei. Devo confessar que os números me surpreenderam, porque eu não esperava tanto. Eu já escrevi 51 histórias completas, e 12 delas tiveram uma segunda versão completa escrita; e 19 histórias ficaram incompletas, algumas com mais, outras com menos páginas. Ou seja, no total já escrevi 82 textos, sendo 63 completos, com começo, meio e fim. E eu tenho apenas 20 histórias sobreviventes, o que significa que, das 63 completas, só 32% se salva e 68% é porcaria.
É claro que não se pode generalizar, e o fato de eu escrever muitos textos ruins não significa que todo mundo escreva também. Mas acho que essas contas servem para mostrar a meus colegas com menos experiência que dificilmente alguém pode ser brilhante todo o tempo; e que encontrar defeitos em seu próprio texto não indica que você é mau escritor, ou que você está fadado ao fracasso. Ao contrário, acho louvável ter humildade de reconhecer seus erros, suas fraquezas, seus enganos – e escondê-los do mundo! Não mostro tudo o que já escrevi, apenas o que eu considero o melhor. Outra conclusão que se pode tirar é: prepare-se para descartar seus primeiros textos (ou re-escrevê-los), porque dificilmente serão os melhores.
Penso que a prova de fogo de um escritor é descartar seu primeiro texto. Quando alguém relê seu primeiro texto e o considera ruim, então há esperança de que se torne um bom escritor, pois já conseguiu um passo de amadurecimento e autocrítica. É por isso que eu sempre sugiro aos colegas: ESCREVA! Escreva sem parar, escreva tudo o que vem à cabeça. Só se aprende a escrever escrevendo. Fazer cursos, ler livros, trocar idéias com os pares pode ajudar mas é a sua intimidade com o seu texto que vai fazer você crescer.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
E SE A PERSONAGEM PRINCIPAL ESTIVER AUSENTE?
Essa pergunta pode soar estranha, afinal, uma personagem, para ser principal – protagonista – precisa estar presente na história para carregar a trama. Eu sei disso mas, mesmo assim, por três vezes, tentei escrever uma história em que o protagonista não aparecesse. A bem da verdade, ele aparece, ocupa seu lugar de personagem principal e depois é afastado da trama. Tudo acontece por causa dele, e as outras personagens se encarregam de caracterizá-lo, como se ele estivesse presente o tempo todo. Foi o que eu fiz em O caso MArchand, Idade média, e Primeiro a honra. Ao chegar ao final das histórias, porém, fiquei com a sensação de não ter alcançado meu objetivo – talvez por isso duas dessas histórias estejam descartadas, e somente Primeiro a honra tenha sobrevivido, por tratar desse tema de uma forma mais madura e refletida. Porque o que acontece é que essa personagem, ao ser afastada da trama, na verdade perde seu lugar de protagonista, e vai ocupar o lugar de “motivo” da ação das outras personagens. Então Michel Archand não é a personagem principal, mas apenas o motivo pelo qual a história acontece. A personagem principal, o protagonista, aquela que carrega a trama, é o Detetive Chaloult. A história acontece ao redor da personalidade e da vida de Archand, mas quem conduz é Chaloult. O dia que eu souber escrever romance policial, essa história volta à vida.
Há um outro caso, numa história que é claro que não vou dizer o nome, em que a personagem principal morre no final, e eu conto como foram o velório e o enterro, em meio aos lamentos das outras personagens. É muito interessante porque, desde que morre, o protagonista está presente em todas as outras cenas, mas sem dizer nenhuma palavra e sem fazer sequer um movimento (é claro, pois está morto). Ele se torna “motivo” das ações das outras personagens mas seu protagonismo continua sólido como foi em toda a história. Cada palavra, cada gesto das outras personagens parecem dialogar com o silêncio e o imobilismo do protagonista. O silêncio dele fala; a imobilidade gesticula. Como já era mesmo o fim da história, nenhuma outra personagem assumiu o lugar de protagonista – mesmo porque eu não saberia a quem entregar esse bastão.
Escrever com o protagonista em algum tipo de “limbo” é um exercício bastante complexo e, muitas vezes, inglório. Já tive a minha quota e só uma possível re-escrita de O caso MArchand me faria tentar de novo. Mas fica a sugestão para quem quiser experimentar.
domingo, 21 de agosto de 2011
ROMANCE, NOVELA, CONTO, CRÔNICA
Não vou falar nenhuma novidade, e inclusive há sites, livros e textos que explicam mais detalhadamente as características desses quatro gêneros de prosa literária. Mas achei importante começar essa fase didática por um aspecto mais geral para depois começar a falar mais especificamente do romance, e de como é, para mim, escrever um romance.
Romances e novelas costumam ser mais longos do que contos e crônicas mas as diferenças principais estão na estruturação e na forma de se escrever cada um deles. O tamanho é conseqüência da estrutura, e não causa.
A crônica, em geral, é um texto curto, baseado em algum aspecto pitoresco da atualidade ou da vida cotidiana. Pode contar uma história ou ser apenas uma reflexão sobre algum evento. Portanto, pode ter personagens ou não. A linguagem é, em geral, leve, fácil e bem-humorada. Mesmo se a crônica contar uma história fictícia, a relação com o cotidiano permanece e a caracteriza.
A característica principal do conto é sua unicidade estrutural. Há apenas um aspecto a abordar, o que produz as outras características: poucas personagens, em geral planas; trama única; unidade temporal; unidade espacial. É uma narrativa rápida, que, por ser breve, precisa ser interessante do começo ao fim. Não há espaço para erros num conto. Há quem diga que, no conto, o mais importante é saber terminar, pois o final deve resolver, ou envolver, ou surpreender. O conto termina no clímax, e não depois (como muitas vezes acontece no romance). Escrever contos parece fácil. Escrever bons contos é bastante difícil. Há pessoas que acham que escrever contos é uma etapa na formação do escritor anterior a escrever romances. Eu não concordo. O trabalho do contista é diferente do trabalho do romancista. Conto não é “treino” para romance, nem vice-versa. Cada gênero tem suas características, suas especificidades, suas dificuldades, um modo de trabalho próprio, que requer do escritor certas características de personalidade e de atividade. É preciso ficar claro também que um romance não desenvolvido não é um conto. Ele só será conto se tiver a estrutura do conto. Outra coisa importante é que o conto precisa contar uma história: a trama (em inglês, plot) é um elemento fundamental e condição sine qua non. Foi por compreender tudo isso que eu parei de escrever contos.
A diferença entre romance e novela é tênue e é ponto de discussão mesmo entre os estudiosos. Há um acordo de que o diferencial é que a novela tem uma trama única e o romance tem, além da trama principal, várias tramas secundárias entrelaçadas, o que produz maior número de personagens e de ambientações. Diante disso, a novela seria um gênero a meio caminho entre o conto, com toda sua unicidade e objetividade, e o romance, com sua pluralidade e complexidade. Algo como um conto mais desenvolvido ou um romance simplificado. É importante não confundir o gênero literário “novela” com o gênero televisivo “novela”, pois são objetos com estruturas e características diferentes.
E finalmente temos o romance, com muitas tramas, muitas personagens, muitos ambientes, amplitude temporal e quantidade ilimitada de páginas para o autor escrever o quanto quiser. Por ser um texto em geral longo, o romance exige maior detalhamento na caracterização das personagens e ambientes, e a verossimilhança precisa ser mantida ao longo de toda a história. Por outro lado, o romance não precisa ser brilhante todo o tempo, mas pode ter partes mais interessantes e partes menos interessantes – no romance, há lugar para o erro e para a tentativa. Romance não é um conto longo, é um gênero específico. A mesma pessoa que me disse que no conto é importante saber terminar disse que, no romance, é importante saber começar. O primeiro capítulo é importantíssimo, pois é ele que vai apresentar o universo da ficção: quem são as personagens, qual é o ambiente, qual é o maior problema, que a personagem principal tem que resolver, e isso tem que ser feito de uma forma interessante (evitando o excesso de didatismo) para que o leitor queira ler o segundo capítulo. Por isso atualmente alguns autores estão preferindo começar o livro com uma cena de ação ou suspense, que chamam “Prólogo”, para só depois começar a contextualização necessária do primeiro capítulo, em geral usando o recurso do flashback.
Esta foi uma breve apresentação dos gêneros mais usados na prosa literária. Como isso é assunto de Teoria da Literatura, não me preocupei em dar detalhes. Há vários sites mais especializados no assunto e, na dúvida, quem tiver interesse pode começar o estudo pela Wikipedia mesmo: Crônica (literatura e jornalismo), Conto, Novela, Romance
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
JORNADA DO HERÓI
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Quando você acha que as mortes ultrapassam dos limites?
Tenho pensado muito sobre essa pergunta, que me foi feita pela Amanda, e a conclusão a que chego é sempre a mesma: nunca. As mortes na ficção nunca ultrapassam nenhum limite. Matar as personagens não é uma questão ética, mas ficcional, e a ficção segue leis próprias, que não se baseiam nos princípios do mundo real. Quando um autor cria uma história e se mete a escrevê-la, é porque quer tratar de um tema, com um determinado objetivo, mesmo que não tenha plena consciência disso. Então, quando acontecem mortes na ficção, é porque há um plano maior de desenvolvimento da história, que faz com que aquelas mortes sejam necessárias. Diante disso, o limite aceitável de mortes varia conforme os objetivos do autor. Em O maior de todos, eu tenho Peste Negra e um complô para tomada de poder. É óbvio que morre muita gente, pois tenho dois eventos altamente mortais. Em Vingança também morre gente, pois o objetivo da história é contar a tentativa de vingança do rapaz.
Quando estruturo uma história, já decido quem precisa morrer quando e como, e as conseqüências dessa morte na vida das personagens principais. Depois, à medida que vou escrevendo a história e desenvolvendo as personagens, fico com pena, e tento poupá-las do destino decidido, mas nunca tenho como fugir, pois aquela morte é apenas um elo numa cadeia maior e, se a morte não acontecer, o rumo da história muda e ela pode, inclusive, se tornar inviável. Então eu tento envolver o leitor, para que ele sofra comigo por aquela morte inevitável, e entenda como ela era necessária para o crescimento emocional do protagonista e a continuação da história em seus objetivos.
Como já contei que há uma – e apenas uma – morte que eu podia ter evitado, porque não era essencial ao prosseguimento da história. Foi a única vez que, ao chegar a hora, eu perguntei “essa personagem precisa mesmo morrer?” e, embora a resposta tenha sido “não”, eu segui em frente e a fiz morrer, e contei cada etapa do processo de morte com todos os detalhes que pude. Eu podia ter evitado essa morte mas não o fiz, justificando que “a morte não mata só quem tem que morrer”. Sempre leio esse capítulo com um lenço na mão, porque as lágrimas são inevitáveis.
Então, Amanda, minha opinião é de que não há limite para a quantidade de mortes numa história. Tudo vai depender dos objetivos do autor e da estrutura montada. Pode não ser necessária nenhuma morte, ou o autor pode ter que matar todas as personagens. Também considero que não há limite qualitativo para as mortes, pelos mesmos motivos. O autor pode precisar apenas da morte de uma personagem terciária, ou pode precisar da morte do próprio protagonista para atingir seus objetivos. Tenho algumas histórias assim (umas sete, numa conta rápida), que acabam porque o protagonista morreu.
Também não vejo necessidade de limite para a maneira como a personagem morre (doença, acidente, assassinato, suicídio), nem para a quantidade de detalhes que o autor decide contar ao leitor – e aqui vou fugir só um pouquinho do tema da pergunta. Eu gosto de descrever os sintomas, as sensações, os sentimentos e pensamentos da personagem que está morrendo. Acho que isso a torna humana, e cria empatia com o leitor, que pode ter experiência de morte sem precisar passar por ela. É bem verdade que eu também nunca morri para ter a experiência que estou contando mas, a partir dos sintomas (informação que um médico ou um bom artigo de medicina pode dar), e do conhecimento que tenho da personagem, consigo imaginar como ela deve estar vivendo essa experiência, e por isso conto. Conforme seja meu vínculo afetivo com a personagem (que eu suponho seja semelhante ao do leitor com a personagem), eu enfoco mais ou menos os detalhes desagradáveis do que elas estão passando. Isso fica bem nítido em dois enforcamentos que acontecem em O maior de todos. Em um deles, como eu tinha simpatia pela personagem, o texto ficou assim: “Ele fez um gesto ao carrasco, que puxou uma corda, e o chão abriu sob Fulano. Os amigos não contiveram mais as lágrimas. Fulano debateu-se com força quase um minuto mas logo acalmou: estava morto”. Como eu não gostava da outra personagem, o texto ficou assim: “Karl fez um gesto ao carrasco, que puxou uma corda e o chão abriu sob Beltrano. O corpo contorceu-se com violência alguns segundos e depois parou: o feio estava morto” (as expressões em itálico são para não dizer os nomes nem dar detalhes da trama).
Nenhuma morte é fácil de ser contada, seja uma doença que consome (peste bubônica, pneumonia, enfarto, falência renal, virose, sarampo, depressão), um enforcamento, um envenenamento, um desmoronamento, uma queda de um lugar alto, uma espada (ou adaga ou punhal) que atravessa os órgãos ou o corpo inteiro, uma pancada na cabeça, uma adaga que corta a traquéia, o frio que congela o sangue, um emparedamento, um ataque de onça (percebam que eu não uso arma de fogo). Todas são difíceis de descrever e detalhar, mas é um procedimento necessário para chamar o leitor para dentro da história. Assim como se descreve em detalhes as cenas de amor, os beijos e carinhos, acho que também cabe descrever as cenas de horror. É esse conjunto que dá verdade a um livro. Além de tudo, a vida é assim, e o destino de todos nós, reais ou fictícios, é o mesmo: a morte. Precisamos parar de ter medo do inexorável.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
ESCREVER SOBRE A ROTINA
Muitos de meus romances provavelmente poderiam ser classificados como romance de ação, pois eu gosto de focar na sucessão de eventos relevantes. Eu estou sempre contando o momento da vida daquela personagem quando ela está decidindo o rumo de sua vida, tomando decisões, resolvendo conflitos com a sociedade e consigo mesma, superando todos os obstáculos que eu e a vida colocamos na frente dela.
Uma história eu quis fazer diferente e contar justamente uma vida sem grandes conflitos, sem grandes feios e eventos – quis falar da rotina da vida comum. Essa história foi Construir a terra, conquistar a vida. Acho que por isso precisei de tantas páginas (876 manuscritas) pois falar do cotidiano dá mais trabalho do que destacar eventos importantes, mesmo sem contar os dias um por um. Bem, essa história também tem a particularidade de falar da vida de duas gerações: com mais personagens, com certeza se tem mais páginas.
Escrever sobre a rotina pode se tornar enfadonho e cansativo, pois a primeira impressão é de mesmice e repetição. E aí está a graça: um dia nunca é igual ao outro. E há os eventos meteorológicos e históricos que interferem na vida das personagens e ajudam a fazer que os dias sejam diferentes. Então, uma história sobre a rotina não é uma história monótona, e serve até de reflexão para nós tomarmos consciência de que nossa vida não é rotina, não é mesmice, não é repetição, mas cada dia é diferente e único para a história da vida de cada um de nós. Cada dia de nossa vida é um livro, original e interessante, que nós escrevemos, da melhor forma que podemos, tentando fazê-lo único e maravilhoso. Assim foram as vidas de Duarte, Fernão e suas famílias: rotineiras, monótonas, maravilhosas e interessantes.quarta-feira, 13 de julho de 2011
LANÇAMENTO DE “PRIMEIRO A HONRA”
sexta-feira, 1 de julho de 2011
RELATÓRIO DE PROGRESSO – 1 MÊS
terça-feira, 21 de junho de 2011
EXÍLIO
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Um pouco sobre mim
- Mônica Cadorin
- Mestre em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se à literatura desde 1985, escrevendo principalmente romances. É Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia - Casa Raul de Leoni desde 1998 e Membro Titular da Academia de Letras de Vassouras desde 1999. Publicou oito romances, além de contos e poesias em antologias. Desde junho de 2009 publica em seu blog textos sobre seu processo de criação e escrita, e curiosidades sobre suas histórias. Em 2015, uniu-se a mais 10 escritores e juntos formaram o canal Apologia das Letras, no Youtube, para falar de assuntos relacionados à literatura.