sexta-feira, 21 de maio de 2010

NASCIMENTOS

Já que falei nas mortes, vou falar também nos nascimentos que acontecem durante as histórias. São em bom número e, para fazer este texto, incluí essa coluna de informação na mesma tabela em que contabilizei o número de mortes, e descobri que há 41 histórias em que não nasce ninguém e 10 histórias em que nasce pelo menos uma pessoa. Ao total, são 44 personagens que nascem durante as histórias. Em seis casos, a história acabou antes que a criança nascesse, sendo que, em Tudo que o dinheiro pode comprar, outras crianças já tinham nascido, então ela aparece entre os 10 casos de nascimentos e entre os seis casos de crianças por nascer. Há apenas um caso de gestação perdida (é claro que não vou dizer em que história). A história com maior número de nascimentos é Construir a terra, conquistar a vida, em que nascem 17 pessoas. É interessante notar que não fazem parte de minhas histórias o nascimento de pessoas reais, mas só conto o nascimento das minhas personagens.

A primeira criança que nasceu numa história minha foi André, de uma história sem nome descartada que eu chamo de Juliana, o nome da personagem principal. Nas histórias sobreviventes, o primeiro bebê foi Clare Neville, em O destino pelo vão de uma janela. Meu “caçula” é Karl Günter, que nasceu em O canhoto (a história mais recente).

A certa altura do processo, desenvolvi uma espécie de “mania” com relação aos nomes das personagens nascidas no Brasil: o nome do bebê é sempre o mesmo da personagem principal do romance anterior. Curiosamente, os primogênitos vêm sendo sempre meninos. Acho que começou em Uma antiga história de amor no Largo do Machado, quando o descendente de Ricardo também se chama Ricardo. A história seguinte passada no Rio de Janeiro foi Tudo que o dinheiro pode comprar e eu resolvi homenagear a personagem principal da história anterior. O nascimento seguinte no Brasil foi em Construir a terra, conquistar a vida, então o primeiro filho de Duarte se chama Miguel. Desde então, não nasceu mais nenhum brasileiro, mas eu já sei que o próximo que nascer se chamará Duarte – ou Eduardo, a forma moderna do nome. A escolha dos nomes das personagens é sempre muito bem pensada, e eu analiso a sonoridade, se é um nome forte ou fraco, doce ou rude, de forma que combine com a personalidade que estou construindo, mas os nomes das crianças é de certa forma exceção, porque, como as pessoas, as crianças das minhas histórias vão formando a personalidade à medida que crescem.

COMO TER UM ESTILO DE ESCRITA PRÓPRIO?

Este é um tema sugerido por pessoas que chegam ao blog utilizando ferramentas de busca.

Acho muito difícil alguém que escreve não ter um estilo próprio. Cada pessoa tem seu jeito de contar uma história – ou então está fazendo pastiche. É claro que somos influenciados pelos autores que gostamos de ler mas estilo é a forma como cada um se expressa, desde a escolha dos temas, a composição das personagens, a estrutura da história, até as palavras que escolhe escrever, o tamanho das frases, a linguagem. Então, para ter seu próprio estilo, um escritor precisa escrever bastante.

Num segundo momento, está o desenvolvimento do estilo: aprimorar a forma de escrever. Para conseguir isso, o escritor precisa ter consciência de seu estilo (por exemplo, os aspectos que eu destaquei aqui em 13/1/2010). Sabendo como cada item é construído, torna-se possível trabalhar melhor cada um. Também é possível perceber como outros autores fazem, e avaliar se é uma característica desejável.

É preciso analisar os próprios textos, entender como foram construídos e como se dá seu processo pessoal de criação. É preciso auto-crítica para perceber o que se faz bem e o que é preciso melhorar. Nessa hora, pode ser boa a opinião de um escritor mais experiente, que terá mais facilidade em perceber e apontar esses aspectos. Assim, um texto com problemas pode ser corrigido e até mesmo re-escrito – eu faço isso o tempo todo, como contei aqui em 21/10/2009 e também recentemente, com todo o processo de transformação de À procura e História do Mundo.

O desenvolvimento do estilo é um processo contínuo, infinito, pois o autor sempre pode encontrar algo que queira melhorar e investir nisso.

terça-feira, 11 de maio de 2010

PROTAGONISTAS E ANTAGONISTAS

Pela definição, protagonista é a personagem principal, o “mocinho”, o “herói”, o “bonzinho”, quem carrega a trama e conduz a história. É por ele que o leitor torce, para que ele chegue ao final feliz esperado. Antagonista é a personagem que se contrapõe à protagonista, criando empecilhos ao final feliz que a protagonista busca. É o “bandido”, o “vilão, o “malvado”.

Nas minhas histórias, em geral tenho um casal protagonista (o mocinho e seu par ou a mocinha e seu par). Às vezes tenho dois casais, quando são dois mocinhos (Duarte e Fernão; Curt e Karl) e seus pares. Mas o que posso dizer de meus antagonistas além de que não são óbvios? Muitas vezes os papéis se confundem, se invertem, se alternam. Minhas personagens vão além do rótulo de “bonzinho” e “malvado”. Em Pelo poder ou pela honra, Estienne e Fréderic são alternadamente o problema e a solução da disputa. Qual dos dois será o verdadeiro antagonista de Ninette?

Em O maior de todos, Curt e Karl são antagonistas um do outro, mas os dois juntos são os protagonistas da história. Nenhum dos dois é totalmente bom nem totalmente mau, nem sempre certos, nem sempre errados – como tudo na vida.

Achei bom o trabalho que fiz em O canhoto, ao falar de Hans Günter. Ele é herói e demônio, volta a ser herói, mostra-se um perdedor, um salvador, para, no fim, ser apenas humano.

E o que dizer quando o protagonista é o “vilão” da história, o “malvado”? É o que acontece em Vingança – como o próprio título já sugere. É interessante porque, se o protagonista é o vingador, então antagonistas são as vítimas, as pobres vítimas indefesas. De certa forma, é uma inversão, até que se conheçam os fatos que provocaram a vingança. Só então os “bonzinhos” vão para o lugar de protagonistas e os “mauzinhos” ficam no lugar de antagonistas, e o vingador pode ter esperança de perdão.

Já Ágila, em Amor de redenção, ocupa os dois lugares: é o protagonista da história, ao mesmo tempo em que age como antagonista de seu par e, portanto, de sua própria felicidade. Camila precisou assumir o lugar de protagonista para ajudar Ágila a decidir se chegaria ao final como seu par (protagonista) ou como antagonista.

Essa definição de papéis nunca é muito evidente porque muitos dos conflitos não são entre personagens, mas de uma personagem consigo mesma, ou entre personagem e meio social. E eu procuro sempre deixar as personagens sem todas as características definidas, para que os “bonzinhos” possam ter ataques de fúria, e os “mauzinhos” possam ter rompantes de generosidade. Procuro fazer minhas personagens imperfeitas e imprevisíveis, como são as pessoas de verdade; então fica difícil enquadrá-las nessas categorias fechadas.

sábado, 1 de maio de 2010

AMOR DE REDENÇÃO

Aproveitando que estou neste blog abrindo meu coração e contando meus segredos, tenho mais um segredo a revelar: às vezes eu acompanho tele-novelas, mas só quando todo mundo as acha ruins. Não gosto das novelas que as pessoas gostam e acompanham, interessadas na trama, no desenrolar dos acontecimentos: estas para mim são chatas e eu não aceito nelas os clichês, lugares-comuns, deus-ex-machina. Já as novelas “esculhambadas”, que de certa forma assumem sua função de ficção para divertir, e não para retratar a vida, nem para fazer uma crítica à situação social, essas me agradam. E foi uma dessas novelas, que as pessoas consideravam fantasiosa, boba e até não-construtiva (são comentários que ouvi, na época) que me deu inspiração para escrever uma história.

Em 2002/2003, a Rede Globo exibiu O beijo do vampiro, de Antônio Calmon, em que Tarcísio Meira interpretava o vampiro Boris Vladescu, criatura empenhada em conseguir a qualquer custo o amor de Lívia, interpretada por Flávia Alessandra, que era a reencarnação do amor da vida dele, a Princesa Cecília. Por fim, ela o fazia entender que nunca poderia amá-lo, porque ele era o Mal, e ele terminava renunciando a ela, pois era sua natureza ser mau e ele não poderia mudar. Discordei. Eu acredito no Amor, e que o Amor é capaz de vencer até o Mal – provavelmente devido à minha formação cristã. Então eu quis repetir a história da novela, mas com um final diferente, em que o Amor que ele sente por ela é capaz de transformar o Mal em Bem.

Não queria uma personagem vampiro, nem todas as tramas secundárias, necessárias à telenovela. Então criei uma adolescente para ser a amada que reencarna, e pensei como construir um homem que fosse mau como um vampiro, sem o ser, e que de alguma forma estivesse vivo há cerca de 1000 anos – mais ou menos como o vampiro da novela.

Recuar cerca de 1000 anos, a partir de 2003, ano em que eu estava, me põe na Idade Média (de novo!). Sempre que preciso recuar à Idade Média, meu primeiro destino é a França. Por isso tenho evitado o lugar, embora muitas vezes acabe ficando pelas redondezas (Nicolaas em Flandres, Legrant na fronteira com a Alemanha). Então, para variar, escolhi a Espanha visigoda, que termina em 711 com a invasão dos árabes. Li muitos textos, pesquisei fotos e mapas para contextualizar bem essa fase da história, e criei Ágila, um guerreiro impiedoso, thiufadi do Rei Leovigildo, que oscila entre tratar mal sua mulher e maltratá-la, embora a ame. Criei também um artifício demoníaco – um verdadeiro diabolus-ex-machina – para justificar a imortalidade dele até ele encontrar Camila em 2003, a adolescente que vai fazê-lo entender que ela não pode amar o Mal. É quando começa a luta entre o Bem e o Mal, entre o que Ágila é e o que ele quer ser. Tentei não ser simplista nem maniqueísta nesse duelo tão batido entre Bem e Mal. Justifiquei as maldades de Ágila, louvei o diabo, enfraqueci a bondade, culpei o amor, na tentativa de mostrar as várias possibilidades dos sentimentos, e a relatividade dos conceitos de Bem e Mal. Mas, como sou cristã, no final a vitória pertence a Deus e àqueles que Ele ama.

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Um pouco sobre mim

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Mestre em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se à literatura desde 1985, escrevendo principalmente romances. É Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia - Casa Raul de Leoni desde 1998 e Membro Titular da Academia de Letras de Vassouras desde 1999. Publicou oito romances, além de contos e poesias em antologias. Desde junho de 2009 publica em seu blog textos sobre seu processo de criação e escrita, e curiosidades sobre suas histórias. Em 2015, uniu-se a mais 10 escritores e juntos formaram o canal Apologia das Letras, no Youtube, para falar de assuntos relacionados à literatura.

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