Aproveitando que estou neste blog abrindo meu coração e contando meus segredos, tenho mais um segredo a revelar: às vezes eu acompanho tele-novelas, mas só quando todo mundo as acha ruins. Não gosto das novelas que as pessoas gostam e acompanham, interessadas na trama, no desenrolar dos acontecimentos: estas para mim são chatas e eu não aceito nelas os clichês, lugares-comuns, deus-ex-machina. Já as novelas “esculhambadas”, que de certa forma assumem sua função de ficção para divertir, e não para retratar a vida, nem para fazer uma crítica à situação social, essas me agradam. E foi uma dessas novelas, que as pessoas consideravam fantasiosa, boba e até não-construtiva (são comentários que ouvi, na época) que me deu inspiração para escrever uma história.
Em 2002/2003, a Rede Globo exibiu O beijo do vampiro, de Antônio Calmon, em que Tarcísio Meira interpretava o vampiro Boris Vladescu, criatura empenhada em conseguir a qualquer custo o amor de Lívia, interpretada por Flávia Alessandra, que era a reencarnação do amor da vida dele, a Princesa Cecília. Por fim, ela o fazia entender que nunca poderia amá-lo, porque ele era o Mal, e ele terminava renunciando a ela, pois era sua natureza ser mau e ele não poderia mudar. Discordei. Eu acredito no Amor, e que o Amor é capaz de vencer até o Mal – provavelmente devido à minha formação cristã. Então eu quis repetir a história da novela, mas com um final diferente, em que o Amor que ele sente por ela é capaz de transformar o Mal em Bem.
Não queria uma personagem vampiro, nem todas as tramas secundárias, necessárias à telenovela. Então criei uma adolescente para ser a amada que reencarna, e pensei como construir um homem que fosse mau como um vampiro, sem o ser, e que de alguma forma estivesse vivo há cerca de 1000 anos – mais ou menos como o vampiro da novela.
Recuar cerca de 1000 anos, a partir de 2003, ano em que eu estava, me põe na Idade Média (de novo!). Sempre que preciso recuar à Idade Média, meu primeiro destino é a França. Por isso tenho evitado o lugar, embora muitas vezes acabe ficando pelas redondezas (Nicolaas em Flandres, Legrant na fronteira com a Alemanha). Então, para variar, escolhi a Espanha visigoda, que termina em 711 com a invasão dos árabes. Li muitos textos, pesquisei fotos e mapas para contextualizar bem essa fase da história, e criei Ágila, um guerreiro impiedoso, thiufadi do Rei Leovigildo, que oscila entre tratar mal sua mulher e maltratá-la, embora a ame. Criei também um artifício demoníaco – um verdadeiro diabolus-ex-machina – para justificar a imortalidade dele até ele encontrar Camila em 2003, a adolescente que vai fazê-lo entender que ela não pode amar o Mal. É quando começa a luta entre o Bem e o Mal, entre o que Ágila é e o que ele quer ser. Tentei não ser simplista nem maniqueísta nesse duelo tão batido entre Bem e Mal. Justifiquei as maldades de Ágila, louvei o diabo, enfraqueci a bondade, culpei o amor, na tentativa de mostrar as várias possibilidades dos sentimentos, e a relatividade dos conceitos de Bem e Mal. Mas, como sou cristã, no final a vitória pertence a Deus e àqueles que Ele ama.
Monica, demorei para responder teu comentário postado no meu blog (marcovieiraautor.blogspot.com), em 01/05, sobre as dificuldades de ser um escritor. Na verdade, tudo o que disseste eu concordo, publiquei no clube de autores não porque prefiro, mas por falta de outra opção. É difícil conseguir uma editora, sendo autor desconhecido, a não ser que pague a edição, e é caro. Fiz divulgação, mas como disseste no teu comentário, as pessoas acabam esquecendo. Minha desilusão com tudo isso explica a demora em te responder, às vezes fico dias sem abrir meu blog.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário.
Abraços,
Marco Vieira
Que forte, Mônica. Fiquei ainda mais curiosa. Então, esse foi mesmo o caso em que sua religião influenciou na história. É difícil demais escrever coisas desse tipo, conduzir um enredo que vai contra a fé que professamos. Mas, enfim, nós não somos os personagens. O problema é que nem todos enxergam dessa forma.
ResponderExcluirBeijos!
Isie.