quarta-feira, 21 de abril de 2010

TIPOS DE MORTES

Sim, vou falar de novo nas mortes que acontecem nas minhas histórias, já que são mesmo muitas. Considerando apenas as histórias que escrevi (em número de 51), tenho 19 histórias em que ninguém morre, e 32 histórias em que morre pelo menos uma pessoa. Ao todo, são 113 mortes. A história que contabiliza o maior número de mortes é O maior de todos, o que não me impressiona, por ser uma história em que há traição e tentativa de golpe de estado, e por estar situada na época da Peste Negra (16 mortes). É interessante que Construir a terra, conquistar a vida, com 876 páginas, tem apenas 13 mortes (proporcionalmente muito menos do que O maior de todos, que tem 160 páginas). Quando eu fui contar quantas pessoas morriam em cada história (sim, tenho esta e outras informações em uma tabela), percebi que há três categorias de mortos:

1) personagens fictícias que morrem durante a história – são minhas criações que morrem por necessidade da trama. Ao todo, são 65 mortes dessa categoria. De todas as 51 histórias que escrevi, há apenas uma personagem que não precisava morrer mas que eu quis matar, justificando que “a morte não leva só quem deve morrer”. Sempre choro ao reler esse capítulo de O maior de todos. Este é, portanto, meu único “assassinato”, pois eu podia ter poupado essa personagem e não o fiz.

2) personagens fictícias que morrem antes da história começar – são pais, mães, irmãos, ancestrais, amigos das personagens que estão agindo na história, e que são citados por elas, e têm alguma importância na condição da personagem, ou no desenrolar da trama. São ao todo 41 mortes nessa categoria. Por exemplo, os pais de Duarte (Construir a terra, conquistar a vida) que, ao morrerem, deixaram-no desamparado, o que o impeliu à vida de furtos; o Velho Araújo (Tudo que o dinheiro pode comprar), que fez Miguel ser egocêntrico e arrogante e, ao morrer, deixou-lhe uma vultuosa herança.

3) pessoas reais que morrem durante a história – embora essas mortes sejam contadas por mim e façam parte da história – às vezes a ponto de determinar eventos fictícios posteriores – não sou responsável por elas, pois a pessoa morreu de qualquer jeito, salvá-las não está a meu alcance, e não fui eu que as matei, mas a vida. Ao todo, são sete: o Conde de Flandres (O canhoto), que morre durante a Terceira Cruzada; e os governantes e jesuítas de Construir a terra, conquistar a vida: Estácio de Sá, Mem de Sá, o rei Dom Sebastião, o rei Dom Henrique, Araribóia, o Padre Manoel da Nóbrega.

Podemos concluir, portanto, que o grande número de mortes nas minhas histórias não é responsabilidade minha apenas, mas dessa lei da vida, que diz que todos os que estão vivos morrem um dia.

domingo, 11 de abril de 2010

BOAS NOTÍCIAS

Neste final de março e início de abril, aconteceram coisas boas na minha vida literária.
Primeiro, terminei de escrever O Além. Ficou com 10 páginas manuscritas ao todo. Acho que consegui dar unidade e coerência às cenas, e, no fim, passa despercebido o limite entre o que eu de fato vi e senti no meu sonho e os eventos e sensações que acrescentei para descrever melhor o que aconteceu no sonho. A história está agora bem guardada numa pasta polionda, em cima do meu armário, junto com À procura, de onde só sairá daqui a pelo menos seis meses, para a próxima avaliação.
Embora eu tivesse oficialmente desistido de retomar História do Mundo agora, por causa dos problemas que contei aqui em 11/3/2010, não tinha parado de pensar nela. Toda noite, quando deitava para dormir, eu me perguntava: "se fose para escrever uma história nova com esses elementos, o que eu faria?" Mas sempre dormia antes de encontrar a resposta. Então, um dia desses, tive uma idéia. Ainda estou testando para ver se funciona até o fim, mas talvez eu tenha encontrado uma trama para minha história que estava inconsistente.
Esta semana, aproveitei os dois dias em que tive que ficar em casa por causa do alagamento total da cidade e tirei O Canhoto da caixa onde ele dormiu por 12 meses. Levei a tarde de um dia e a manhã do outro para ler toda a história. Chorei nas partes tristes, ri dos trechos engraçados, revivi o suspense dos momentos de revelação. Ou seja, continuo considerando-a uma boa história. É hora, então, de digitar todas as 376 páginas e mais os enxertos já feitos. Provavelmente vou mexer muito pouco no que está escrito, nesta fase, porque não encontrei nada que precise ser modificado. Há umas expressões a padronizar, como o nome das línguas que as personagens falam, e as nacionalidades. Ah, preciso também detalhar a descrição das personagens mais importantes e dar traços das menos importantes. É o que há de mais complexo a fazer, mas até já sei onde incluir as frases.
E, por fim, estou cuidando dos trâmites burocráticos para os registros legais da minha próxima publicação: Primeiro a honra. Será meu primeiro "trabalho solo", pois serei eu a fazer tudo, da diagramação à impressão e distribuição, uma vez que a minha editora fechou e, para falar a verdade, não consigo confiar em outra editora.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

EXPERIÊNCIA E CARREIRA

É engraçado pensar que este mês (não lembro nem anotei o dia) completo 25 anos de carreira literária. Em abril de 1985, quando escrevi aquele sonho, que se tornou minha primeira história, não pensava que chegaria aqui. Mas cheguei. E, graças a tudo pelo que passei, atingi uma maturidade que eu não tinha quando comecei. A conclusão parece óbvia, mas é essa maturidade, não só de vida mas também de prática literária, que me faz ter clareza do meu processo, e me torna capaz de orientar colegas menos experientes.

Fico muito lisonjeada com os comentários que as pessoas – muitas das vezes, colegas de literatura – têm feito sobre meu trabalho, aqui no blog e nas comunidades literárias de que participo. Dizem que aprendem com meus textos, que se encantam com o que escrevo, que a narrativa está tão bem feita que nada há a observar e corrigir. Minha primeira reação é sempre de “calma, que é isso, não é bem assim: sou apenas uma escritora iniciante”. Mas depois “cai a ficha, e eu lembro de todo meu percurso para chegar aqui e acredito que os elogios não são exagerados, pois de fato eu sei algumas coisas e me aperfeiçoei ao longo desses anos. É pena que o mercado editorial tenha outros olhos, e as editoras grandes, que poderiam divulgar bem meu nome e meu trabalho, continuem fechadas para mim, pois continuo sendo uma ilustre desconhecida do público em geral.

Pode parecer pedante eu chamar de carreira literária esses 25 anos de escrita que tenho. Mas é uma prerrogativa do ofício – sim, a literatura é mais ofício do que profissão, no sentido de que não é regulamentada, não há formação específica nem mercado de trabalho formal. Então, assim como me auto-intitulo escritora ou romancista, também me dou ao direito de auto-intitular minha trajetória de “carreira”. É algo que só os artistas podem fazer. Não é um diploma, nem um certificado ou declaração que dizem que alguém é compositor musical, ou artista plástico, ou cineasta, ou ator, ou escritor. Cursos podem ajudar a aperfeiçoar mas não bastam. Pessoas com cursos e títulos podem não se considerar artistas, assim como pessoas sem curso nenhum podem ser artistas e fazer bons trabalhos. Descobri isso na faculdade de Educação Artística, quando uma colega, cuja produção, na época, eu considerava medíocre, assinou um texto se intitulando “artista plástica”. Eu e outros colegas, indignados, nos perguntávamos “quem disse que ela é artista plástica?” A resposta era óbvia: ela mesma. E quem éramos nós, meros aprendizes também, para dizer que não? Foi quando decidi que começaria a me chamar de “escritora” assim que publicasse o primeiro livro – pois o que vale neste mundo não é escrever, é publicar, é disponibilizar publicamente um objeto para uso do público (desculpem a redundância, mas, neste caso, me parece inevitável).

Comecei minha carreira escrevendo poemas, contos, crônicas, romances curtos (menos de 100 páginas manuscritas), romances longos (acima de 100 páginas manuscritas). Hoje escrevo apenas romances longos, e eventualmente algum romance curto acontece. Mas sempre romances.

Foi importante mas também dolorosa essa escolha, porque significou fechar portas. Quando se escolhe uma coisa, ao mesmo tempo se “des-escolhe” todas as outras. Mas é importante ter um foco, para que o aperfeiçoamento seja mais fácil e, muitas vezes, possível. Primeiro, fiz uma opção pela prosa, abandonando a poesia, que passou a acontecer esporadicamente, só em momentos de grande emoção e inspiração. Na verdade, minha produção poética se concentra nos anos de 1990 a 1992. Depois disso, só fiz 2 poesias em 1993, uma poesia em 1994, 1996, 1997 e 1998 e, desde então, mais nenhuma. Mais ou menos na mesma época, abandonei a crônica, por perceber que as histórias inventadas que eu faço têm mais consistência do que as histórias que têm vínculo com a realidade, além de serem muito mais fáceis de se fazer. Oficialmente só parei de fazer contos em 2004, quando um contista me mostrou os defeitos dos meus contos, mas eu já tinha parado com a produção em 1996, data do último conto (À procura). Depois disso, as duas histórias mais curtas já foram romances curtos, e não mais contos. Mesmo sem escrever contos desde 1996, eu ainda me considerava romancista e contista, o que só acabou em 2004, quando eu resolvi não escrever mais contos, e investir só no romance. No início, minha preocupação era: “e se eu tiver uma idéia curta?” Mas logo percebi que eu não tinha mais idéias curtas há muito tempo, e que isso não seria problema. Mesmo À procura pôde ser desenvolvida e se tornou um romance curto.

De fato, desde Construir a terra, conquistar a vida, quando eu resolvi contar praticamente toda a vida da personagem principal, e também de seus descendentes (a idéia de gerações, conforme contei aqui em 21/09/2009), o que me rendeu 876 páginas, mesmo minhas idéias curtas, de histórias que acontecem em pouco tempo e num mesmo lugar, têm rendido pelo menos romances curtos (Vingança e A noiva trocada). Se o conflito for um pouco mais complicado de resolver, lá vou eu passando das 100 páginas (Fábrica e Amor de redenção). Desde o início, o que eu mais gosto de fazer são os romances, em que eu tenho espaço para fazer meus diálogos, onde as características psicológicas das personagens e os conflitos se desenvolvem e se apresentam ao leitor, então essas escolhas, no fim, não foram tão sofridas assim, e eu nunca me arrependi por elas, nem tive “recaídas” de voltar a escrever nas formas abandonadas (exceto por O Além, que é um conto, mas esse é um caso especial). Mesmo dentro dessa escolha por contar histórias longas, eu podia ter escolhido escrever peças teatrais ou roteiros para cinema e TV. Mas eu me decidi mesmo pelo romance, pela arte na palavra escrita. Por mais que meus textos tenham muitos diálogos, como no teatro, e, às vezes, a descrição da cena seja meio cinematográfica, escolhi me expressar com palavras, não com imagens.

Ah, antes que me esqueça, quero esclarecer um pequeno detalhe. Quando se fala em 25 anos de carreira, a primeira impressão pode ser de que se trata de uma pessoa de meia idade. Mas a arte nos permite começar bem jovens, de forma que conseguimos fazer bodas de carreira sem contar muitos aniversários. Este ano, além dos 25 anos de carreira, comemoro 10 anos de casamento e 40 anos de vida, embora minha aparência faça muitas pessoas julgarem que tenho menos idade.

Recentemente, mudei o critério de numeração de minhas histórias, e resolvi numerar também quando retomo uma idéia para retrabalhá-la, pois isso facilita encontrar todas. Antes, se a história de número 33, por exemplo, fosse retomada anos depois, após a história 170, ela manteria o número 33, em vez de receber o número 171. Isso dificultava muito encontrar as retomadas, pois podiam estar em qualquer lugar das 23 páginas de registros. Agora, a nova versão da história 33, se vier depois da história 170, tem o número 171, e uma referência de que é versão da história 33. A história que mais foi retomada não tem título mas eu chamo de “Bonzinho mau-caráter” (adoro falsas aparências!) e aparece nas posições 114, 197, 267 e 298. Por causa dessa renumeração, o número de histórias aumentou, em relação ao que citei aqui em 11/06/2009, pois todas as retomadas, que não contavam como histórias novas, agora contam. Então, ao final de 25 anos, tenho 306 histórias criadas, sendo que 137 são completas. Isso dá uma média de 12,24 histórias criadas por ano e 5,48 histórias completas por ano. Esse número é alto porque sou viciada em criar histórias, e não durmo se não inventar um pedaço de alguma coisa. Para quem gosta de imagens (como eu, por exemplo), fiz um gráfico com o número de histórias ano a ano (clique na imagem para ampliar).

O saldo numérico desses 25 anos é este: 306 histórias criadas; 136 histórias completas; 23 histórias sobreviventes, que se organizam em 6 livros publicados, 9 livros a publicar e 3 histórias em desenvolvimento.

Agradeço à literatura pela companhia durante esses 25 anos, pelos bons momentos que passamos (todos!!), pelos amores e aventuras que vivemos juntas.

Agradeço a minhas amigas de adolescência, que tiveram a paciência de ler minhas histórias quando eu ainda não sabia escrever bem, em especial à Cláudia, que teve que ler todas as primeiras e opinar sobre elas. Até hoje, não posso nem falar o nome da primeira, porque ela pede, desesperada: “não me faça lembrar dessa história! É horrível! É a pior história que você escreveu! Você ainda não a jogou fora? Joga no lixo! Vamos falar de outra coisa?”

Agradeço especialmente à minha amiga Luciana, que leu muitas, mas conhece todas desde a fase de criação, pelas nossas horas de conversa sem fim, em que eu conto o que fiz e como a história vai prosseguir, e muitas vezes leio para ela em voz alta alguns trechos. Lembro que eu tinha uma história com fantasmas, que eu contei a ela de noite. A mãe dela entrou no quarto e nos assustou. Depois ela não conseguiu dormir direito. Lembro também como era difícil acompanhar quem era quem na “história dos tatás”, como é conhecida entre nós. São muitas lembranças das horas de conversa com essa amiga paciente tão querida.

Agradeço também aos amigos eu já me conheceram na fase dos livros publicados, e vêm prestigiando meu trabalho, lendo os livros e opinando. É muito importante para o autor ter retorno de seu trabalho, inclusive aquele “não gostei”, que muita gente tem medo de dizer mas que eu gosto de ouvir, porque às vezes meu objetivo é mesmo chocar o leitor e tirá-lo da zona de conforto.

E agradeço a todos os que leem meus textos no blog e nas comunidades – amigos que a literatura, com a ajuda da tecnologia, está trazendo para mim. É mesmo uma boa e inseparável amiga, a literatura.

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Um pouco sobre mim

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Mestre em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se à literatura desde 1985, escrevendo principalmente romances. É Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia - Casa Raul de Leoni desde 1998 e Membro Titular da Academia de Letras de Vassouras desde 1999. Publicou oito romances, além de contos e poesias em antologias. Desde junho de 2009 publica em seu blog textos sobre seu processo de criação e escrita, e curiosidades sobre suas histórias. Em 2015, uniu-se a mais 10 escritores e juntos formaram o canal Apologia das Letras, no Youtube, para falar de assuntos relacionados à literatura.

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