sábado, 21 de janeiro de 2012

PESQUISA HISTÓRICA

Precisei ir à Biblioteca Nacional no início do mês, então aproveitei que já estava lá para a pesquisa que eu precisava fazer para minha história atual. Ao se escrever romances ambientados no passado, o mais difícil – e também o mais interessante e desafiador – é saber detalhes históricos para usar no romance. Hoje em dia, com a Internet, é fácil descobrir a história da cidade em que o romance está ambientado, a geografia – inclusive com mapas históricos, e alguns aspectos da vida cotidiana, como festas e eventos culturais. Mas há certos pormenores que textos históricos não contam, e que somente uma pesquisa específica em fontes primárias (documentos da época) consegue resolver. Minha dificuldade no momento era quanto ao valor do dinheiro. Que a moeda no Brasil nas décadas de 1910 e 1920 era o Real (que as pessoas chamavam de “réis”) eu já sabia. Mas quanto valia, por exemplo, mil réis (R 1$000)? Quanto se recebia de salário? Quanto custava a cesta básica? Como Toni oscila entre empregado e desempregado, eu precisava ter certeza de quanto ele ganha e quanto gasta – até porque muitas vezes (por exemplo, quando ele é contratado para um novo emprego) preciso citar isso no texto.

Quando estudei sobre e Greve Geral de 1917, encontrei a informação de que um operário ganhava em média cinco mil réis (R 5$000). Achei que esse valor era por mês, o que fazia de R 1:000$000 (um conto de réis) uma fortuna. Mas eu tinha que ter certeza se minhas suposições eram corretas, então precisava de um tipo de documento da época que me situasse de uma forma mais segura.

Cheguei ao setor de periódicos da Biblioteca Nacional e perguntei como procurar o que eu precisava. A moça que me atendeu explicou: pelo título da publicação. Hein? Pelo título? Mas eu não faço ideia de qual é a publicação que me serve. Mas afinal o que eu quero? Jornais publicados em São Paulo em 1918 (arbitrei a data, considerando a Grande Guerra) que tenham classificados. Eu já tinha feito esse tipo de pesquisa para Tudo o que o dinheiro pode comprar, e achei uma boa estratégia para repetir. Na época, eu procurava a cotação do café para exportação, e ofertas de escravos à venda, para calcular a receita de Miguel, e quanto ele poderia dar de mesada a mulher, por exemplo. Desta vez também, a funcionária, experiente, logo se lembrou de algo e me trouxe três rolos de microfilme do jornal O Estado de São Paulo em 1918. Eu pulei todas as notícias e li apenas os classificados de algumas edições de janeiro e algumas edições de abril. É fantástico, pois encontrei anúncios de oferta de casas para vender e para alugar; roupas masculinas e roupas de cama, mesa e banho; vagas em pensões; e também ofertas de emprego, quando descobri que a informação de R 5$000 que eu tinha se referia à diária, e não a um salário mensal. Descobri também quanto custam ingressos para o cinema e para o teatro; livros, revistas, exemplares e assinatura do jornal. Com essas informações, pude calcular os salários de Toni em seus vários empregos, as despesas dele de estadia e alimentação, e também despesas avulsas, como roupas novas e diversão. É claro que arbitrei quanto custam as coisas que ele paga, mas com uma base de realidade sólida. Se a pensão do anúncio cobra entre R 70$000 e R 80$000 por mês, Dona Luizinha pode cobrar R 68$000; se cada refeição da pensão do anúncio custa cerca de R $600 (seiscentos réis), Dona Luizinha pode cobrar R $640 (seiscentos e quarenta réis, ou dois cruzados). Se uma loja chique cobra R 4$600 por uma camisa, Toni pode comprar numa loja popular por R 1$500. Bem, eu precisava também saber se ele teria sempre dinheiro para pagar suas contas, então montei uma tabela de receitas e despesas, e ajustei os salários e o tempo dele em cada emprego para que ele tenha – ou não – como pagar suas despesas entre 1915, ano em que ele chega em São Paulo, e 1922, quando ele receberá uma proposta de emprego imperdível, desde que... Não vou contar, né?

Faltava só uma informação, que não consegui encontrar nos classificados: o preço da passagem de trem para ele voltar para a casa dos pais em São Carlos. Ajudou-me a Internet, ao me jogar na página do governo do Estado de São Paulo, que já digitalizou documentos governamentais, inclusive do início do século XX, onde encontrei os decretos de aumento de preço. Então agora essa parte financeira está resolvida, e não preciso mais deixar buracos no texto, esperando pela informação. Agora é só organizar meu tempo, para poder escrever mais rápido.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

PÁGINAS COLORIDAS

Já estou passando da página 80 do meu novo romance. Está na hora de preparar a página 100, que, pelas características de tempo/espaço da história, será cor-de-rosa.

Essa é uma das minhas manias, e virou uma diversão. Passei os três primeiros anos da minha carreira escrevendo textos curtos. Não que as histórias fossem contos; eu apenas não sabia desenvolver bem os romances, e eles acabavam ficando com 60 ou 80 páginas manuscritas. Mosteiro foi a primeira a mudar isso – tanto que ela é um marco de mudança de fase, como contei neste texto. Em Mosteiro , eu tinha tanta coisa para contar, entre fatos e sentimento das personagens, que a certa altura (lá pela página 93), percebi que ia passar de 100 páginas. Ora, 100 é um número redondo, corresponde a um século, e eu nunca tinha escrito tanto, então achei que o feito merecia uma comemoração, que ficasse para sempre marcada no texto. Na época, eu tinha ganhado uns pacotes de Creative Paper (papel craft) com folhas coloridas e achei que seria uma boa ideia ter uma folha colorida no meio de mais de 100 folhas brancas – isso por certo marcaria a minha primeira centésima página escrita numa mesma história. E foi o que eu fiz. Dessa forma, a página 100 de Mosteiro é cor-de-abóbora, e depois dela há mais 89 páginas brancas, completando a história. Era tão grande que fiz para ela uma capa de cartolina. Achei boa a ideia de ter uma lombada para facilitar o manuseio das folhas de papel, então resolvi dar nem que fosse uma mini-capa a todas elas – já que o pequeno número de páginas não justificava uma capa de cartolina para cada uma. Como uma das minhas formas de organização é atribuir cores a conjuntos, aproveitei o Creative Paper para fazer as mini-capas das histórias. As cores disponíveis eram (excluídas preto e branco) vermelho, cor-de-rosa, azul, verde, amarelo, cor-de-abóbora então estabeleci o critério da ambientação para classificar as histórias e fiquei com seis grupos associados às seis cores (já contei isso aqui). A partir de então, as páginas múltiplas de 100 têm a cor da classificação da história. A página 100 de Mosteiro deveria ter sido vermelha, mas ela pertence à pré-história da classificação.

Até agora, tenho oito histórias que ultrapassaram a página 100: Mosteiro, Uma antiga história de amor no Largo do Machado, O maior de todos, Primeiro a honra, Tudo que o dinheiro pode comprar, Construir a terra, conquistar a vida, Fábrica, O canhoto. Achei muito curiosa a coincidência entre a página 100 de Mosteiro e de O canhoto (lembrando que O canhoto é re-escrita de Mosteiro), pois as duas foram escritas com um intervalo praticamente exato de nove anos entre elas: 16, 17 e 18 de setembro de 1988 / 17 e 18 de setembro de 2007.

Minha primeira 200 aconteceu em Tudo que o dinheiro pode comprar: eu “estiquei” a história para chegar até ela. As outras 200 são em Construir a terra, conquistar a vida e O canhoto.

Minha primeira 300 foi em Construir a terra, conquistar a vida. Além dela, apenas O canhoto tem mais de 300 páginas.

A partir daí, todas as outras páginas múltiplas de 100 são apenas em Construir a terra, conquistar a vida: 400, 500, 600, 700, 800. E, a menos que eu me meta a escrever outra saga, dificilmente chegarei novamente a 500 páginas.

A história de Toni está chegando a 100 páginas. Ainda estou em no ano de 1919 e tenho muito que contar, até 1928, o fim da história. Se posso arriscar um palpite, acho que, além da página 100, essa história terá também uma página 200 e uma página 300 coloridas.

domingo, 1 de janeiro de 2012

ANO NOVO DE NOVO!

E não é que 2011 chegou ao fim? Foi um ano muito proveitoso para mim, pois lancei Primeiro a honra, comecei a escrever Rosinha, estou preparando A noiva trocada para publicação e já fiz revisão de algumas páginas de Construir a terra, conquistar a vida, para dar início ao processo de registros para publicação em seguida. Foi um ano de ler muito, estudar muito, escrever muito, não só nesse meu lado literário, mas também como historiadora da arte, meu verdadeiro ganha-pão.

Cada final de ano é um momento de rever prioridades e objetivos, retraçar metas e elaborar como atingi-las. Como fiz no final de 2010, revi minha participação em comunidades e fori, de forma a passar meu tempo somente com as melhores companhias. Minhas comunidades favoritas atualmente são Escreva seu livro e, dentro do Orkut, Escritores – teoria literária. Também não consegui acompanhar todos os blogs que gostaria, mas este ano vou me programar também para seguir mais de perto os amigos, e retirar da minha lista de desejos blogs menos interessantes. Os textos do meu blog continuam na linha prevista em junho de 2011: notícias da história que estou escrevendo, e dicas de técnica de escrita.

Em 2011 aconteceu algo que eu não esperava e que pretendo dar continuação em 2012: comecei a opinar sobre textos de colegas menos experientes. Não apenas comentando por alto, mas analisando pontos específicos mais detalhadamente. Não sei se isso pode ser chamado de “leitura crítica” ou de “coaching” mas gostei de usar minha experiência para ajudar outros escritores. Eu também aprendi muito com os textos que li. Quem sabe não se inicia assim uma nova possibilidade de trabalho literário? Diante disso, preciso agradecer aos colegas que vêm me confiando seus textos e dialogando com as minhas opiniões. Este ano, pretendo aprender mais sobre leitura crítica para saber orientar melhor os amigos e – quem sabe? – oferecer esse serviço também a pessoas que eu não conheço.

Por enquanto, um Feliz Ano Novo, com muita literatura, para todos!

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Um pouco sobre mim

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Mestre em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se à literatura desde 1985, escrevendo principalmente romances. É Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia - Casa Raul de Leoni desde 1998 e Membro Titular da Academia de Letras de Vassouras desde 1999. Publicou oito romances, além de contos e poesias em antologias. Desde junho de 2009 publica em seu blog textos sobre seu processo de criação e escrita, e curiosidades sobre suas histórias. Em 2015, uniu-se a mais 10 escritores e juntos formaram o canal Apologia das Letras, no Youtube, para falar de assuntos relacionados à literatura.

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