quarta-feira, 21 de outubro de 2009

RE-ESCREVER, REINVENTAR

São coisas que eu faço o tempo todo. Há vários tipos de re-escrever e reinventar:


1) reinventar a história que estou escrevendo – revejo cenas e falas à procura do texto que expressa melhor o que quero dizer. Faço isso o tempo todo, e só paro quando o livro vai para a gráfica.

2) re-escrever o que estou escrevendo – reparos e ajustes durante todo o processo, que só termina de fato com a publicação.


3) reinventar uma história descartada – eu vou testando possibilidades de alteração nas caracterizações, no ambiente e na estrutura da história. Em geral, estou procurando um final que me agrade, para que eu possa pensar em escrever. Cada vez que retomo uma história faço um registro novo por causa da data de criação. Quando são significativas as alterações de estrutura, conto-a como uma nova história. Alterações de ambientação e/ou caracterização não configuram uma nova história.


Tentei reinventar aquela primeira história, de 1985, por duas vezes (total de três versões, portanto) sem sucesso. Tenho carinho por ela, por ter sido a primeira, mas tive que me convencer de que realmente nada se salva nela.


4) re-escrever uma história descartada – de repente percebi que era uma prática recorrente. Re-escrever pode significar simplesmente mudar o texto, mantendo a estrutura básica e uma caracterização e ambientação mínimas, ou às vezes trazendo a história para o aqui e agora – o que seria o re-escrever propriamente dito, que aconteceu em O canhoto, como contei aqui em 1/7/09, mas pode significar também inspirar-me numa história descartada para criar uma outra, com estrutura apenas semelhante, nova ambientação e nova caracterização das personagens.

Esse segundo significado de re-escrever é o mais comum e o mais importante dentro do meu processo, pois acontece sem eu perceber – é inconsciente. Somente depois da nova história pronta (se não escrita, pelo menos totalmente inventada) é que eu percebo que retomei algo que já havia.

Primeiro a honra é a segunda versão de uma história de 1986, pois têm em comum a morte de uma personagem importante logo no início, mas sua permanência durante toda a história, por ser citada pelas outras personagens, que sentem sua falta – o que cria o que eu chamo de “morto que não morre”. Nesta segunda versão, a caracterização das personagens foi aprofundada, a estrutura ficou mais coerente, escolhi outro local e a época recuou alguns séculos.

Fábrica é a terceira versão daquela primeira “história adulta”. Reescrevê-la não foi intencional: desta vez, eu queria falar de questões de trabalho, dinheiro e classes sociais. Mas de repente eu percebi que tinha de novo uma moça rica apaixonada por um rapaz pobre, e ela brigava com o pai por causa desse amor. Então resolvi aproveitar os nomes – e os apelidos, que aqui são importantes – e reescrever, para ver se eles conseguiriam ficar juntos no final. Fiquei muito feliz ao poder reaproveitar uma história tão significativa para mim como foi essa, criada na época das histórias infantis mas já com pretensões de carreira literária, antes que tudo começasse de fato.

Agora que percebi que re-escrever é uma prática possível e até comum para mim, ao descartar uma história que acho interessante, já a marco como suspensa, prevendo que um dia será reescrita – uma espécie de fila de reinvenção. Foi o que aconteceu com o romance Tudo que o dinheiro pode comprar. Ela seria a primeira na fila de publicação mas resolvi descartá-la em vez de publicá-la, pois encontrei algumas incoerências no comportamento da personagem principal, o que significa que a caracterização está falha e inconsistente. Mas gosto da ideia de alguém que tem tanto dinheiro que pensa que pode comprar tudo e todos, por isso ela ficará suspensa, aguardando o momento propício em que meu inconsciente vai querer mexer nesse assunto de novo.

domingo, 11 de outubro de 2009

NOVIDADES NO BLOG

Hoje estou estreando uma novidade. Percebi que seria trabalhoso, repetitivo e correria o risco de ser também infrutífero eu ficar contando detalhes de cada história no meio dos textos. Confiando na memória do leitor, eu poderia também não dar todas as informações necessárias. Então criei uma área específica para as fichas técnicas das histórias, um lugar que estou chamando de “Blog de apoio”, onde coloquei informações básicas sobre cada história: data de criação e publicação, número de páginas, ambientação (época e local), nome das personagens principais e uma pequena sinopse. Se é uma história sobrevivente, há também um link para um trecho do livro.

Então agora, em vez de dar informações no meio do texto, o título ou o nome da personagem vai remeter à ficha técnica daquela história. Os textos já publicados também foram revisados, de forma que agora estão mais enxutos, mais orientados para o tema proposto, e as informações específicas de cada história podem ser acessadas a qualquer momento, pelos vínculos que há nos textos, que aparecem em letra verde. Se já quiser conhecer essa área reservada, clique aqui, ou espere para clicar nos vínculos dos textos quando aparecerem.

APELIDOS

Este é mais um texto para falar das exceções, assim como o texto sobre animais, publicado aqui em 11/7/2009. Minhas personagens não têm apelidos. Há apenas duas exceções que, por serem exceções, são marcantes. Nessas duas histórias, os apelidos são essenciais, e a história seria completamente outra sem eles.

A primeira história com apelidos é de 1985. Não tem título mas eu a chamo de Cheia de charme, por ter, a meu ver, um clima semelhante à musica de Guilherme Arantes. Nela, Mark Harrison e Cindy Hunter tratam-se pelos apelidos Mac e Cissy, e esse uso é exclusivamente entre eles, como símbolo do amor entre eles. Essa história hoje está descartada.

A segunda história é aquela primeira idéia de 1983, que foi escrita em 1986 e re-escrita em 2004, e que eu chamo de Fábrica por ainda não ter arranjado um bom título para ela. Nas duas primeiras versões, a história se passava na Inglaterra, então Alexander e Catherine se chamavam de Alex e Cathy, assim como todas as outras pessoas, especialmente familiares e amigos. Então quando, em 2004, eu percebi que estava fazendo uma releitura dessa história, não bastava aproveitar os nomes, mas tinha que trazer especialmente os apelidos. Como Fábrica se passa no Rio de Janeiro, Alexandre e Catarina se chamam por Alex e Caty. Confesso que mantive Alex paroxítono para mim mas não tive dificuldade em aportuguesar a pronúncia de Cathy para Caty. Eles começam a se chamar pelos apelidos desde que se conhecem, e isso acaba sendo fator de aproximação entre eles.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

POR QUE TANTOS ROMANCES HISTÓRICOS?

Pode ser afinidade com o ideal romântico de fuga da realidade. Um colega que leu O maior de todos afirmou que não se trata de romance histórico, mas apenas uma história ambientada no passado. Concordo com ele. Minhas histórias tratam da natureza humana, e dos conflitos entre o indivíduo e o meio em que ele vive. Na grande maioria dos casos, poderiam ser situadas em qualquer tempo e em qualquer lugar – com ajustes na caracterização das personagens, é claro – e eu escolho onde vou colocá-las, conforme o que eu entendo como necessidade da trama e conforme meus gostos pessoais.

Se Nicolaas (O canhoto) não fosse à Terceira Cruzada, podia ir à Primeira ou à Sétima, ou à Segunda Guerra Mundial, que faria pouca diferença. A história não é sobre a Cruzada, mas sobre a busca individual dele por si mesmo.

Talvez o que eu tenho de mais próximo de um romance histórico seja Construir a terra, conquistar a vida, em que a formação da cidade do Rio de Janeiro, com seus lugares e personagens, é parte importante da história e aparece com destaque, influenciando a vida das personagens fictícias. Mas mesmo essa história poderia acontecer em outro ambiente sem perda de características fundamentais.

A forma romance também poderia ser contestada. É verdade que comecei a escrever tentando me filiar a José de Alencar, autor de vários romances favoritos, mas, como nunca me importei em analisar a forma dos romances que li, também faço os meus sem essa reflexão. O leitor mais atento deste blog já deve ter percebido que me refiro a meus romances pelo termo história, que, a meu ver, abrange todas as formas de ficção narrativa. Uso história (com HI), em vez de estória (com ES) pois história é mais abrangente, e engloba tanto a História real como as estórias fictícias. Então eu tenho histórias muito curtas, que agrupei com as poesias, por considerá-las “poesia em prosa”; histórias curtas, que eu considero contos; histórias longas e muito longas, que eu chamo de romances.

MAIS ORGANIZAÇÃO

Além da grande planilha índice e das duas tabelas quantitativas, explicadas aqui em 11/9/2009, eu também produzo listagens que me ajudam a ter as informações organizadas.

1) “Ordem em que terminaram de ser escritas”, com o título da história, número de páginas, número de capítulos, data final.

2) “Número de páginas por dia”, em que calculo, pelo número de páginas e pelos dias que levei para escrever, qual o número médio de páginas escritas por dia. Registra as informações de título da história, data final, data inicial, número de páginas, número de dias, média por dia. A maioria tem a média de 0,6 páginas por dia, mas as médias oscilam entre 11 e 0,3 páginas por dia. Essa média não significa que eu escrevo 0,6 páginas por dia e paro. Significa que, em alguns dias, eu escrevo três linhas; em outros, 10 páginas, e passo alguns dias sem tempo de escrever nada. Se eu pudesse dedicar uma ou duas horas do meu dia para escrever, minhas médias seriam muito mais altas. Mas, infelizmente, ainda não cheguei ao ponto de viver de literatura, então tenho que me contentar em escrever dentro do metrô, dentro do ônibus, na fila do banco, esperando o elevador, e eventualmente depois que minha filha dorme.

Há ainda uma “tabela curta”, em que constam apenas os sobreviventes, com as informações: título da história, gênero, cor, nome do arquivo com o texto, número de capítulos, número de páginas após digitação, número de páginas do livro publicado, ano de criação, época ou local em que se passa, tipo de romance (curto, longo, muito longo, Cavalaria), e se está registrado nos Direitos Autorais.

Tenho também um arquivo com “análise literária” das histórias sobreviventes (algumas foram descartadas depois), um arquivo de texto com o “motivo que me levou a escolher alguns nomes”, e agora quero também registrar o “motivo de escolha de algumas ambientações”, pois, assim como os nomes, as escolhas das épocas e locais têm motivos sólidos, que eu não quero esquecer (embora já tenha esquecido alguns).

Outros textos interessantes

Um pouco sobre mim

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Mestre em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se à literatura desde 1985, escrevendo principalmente romances. É Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia - Casa Raul de Leoni desde 1998 e Membro Titular da Academia de Letras de Vassouras desde 1999. Publicou oito romances, além de contos e poesias em antologias. Desde junho de 2009 publica em seu blog textos sobre seu processo de criação e escrita, e curiosidades sobre suas histórias. Em 2015, uniu-se a mais 10 escritores e juntos formaram o canal Apologia das Letras, no Youtube, para falar de assuntos relacionados à literatura.

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