quarta-feira, 21 de março de 2012

PONTO DE VIRADA

Está difícil para mim escrever textos específicos para o blog, pois estou preferindo dedicar minha imaginação e meu tempo a escrever meu romance que, finalmente passou a página 100 (em 18/3/2012). Estou muito animada pois estou em setembro de 1920, cada vez mais próxima do grande momento, o ponto de virada principal da história.

Percebi que é uma característica minha expor minhas personagens a uma total desestruturação de suas vidas justamente quando tudo parece estar se resolvendo. Se formos considerar a estrutura do Best Seller, como essa apresentada por Júlio Rocha, seria o equivalente ao “Ponto de Virada 3 – Ponto sem retorno”. Eu não uso essa fórmula para construir meus romances mas acho interessante para analisá-los. Quando a personagem pensa que tudo está se resolvendo e que os problemas já passaram, a vida lhe dá uma rasteira e ela vai para uma condição pior do que quando seus problemas começaram. É o verdadeiro ponto de virada, quando a personagem em termos da Jornada do Herói, “enfrenta a morte”. Tudo o que acontece antes me parece mera introdução, mesmo que tenha 42 páginas manuscritas, como em Fábrica, ou 73 páginas manuscritas, como em O maior de todos, ou até mesmo mais de 100 páginas, como em O canhoto (173 páginas manuscritas) e Rosinha (ainda não cheguei lá).

É o momento da personagem decidir a vida, de fazer a escolha que vai definir todo seu destino, para o bem ou para o mal. Se as personagens escolhem o melhor, não sei dizer. Mas elas escolhem o que é necessário para que a história prossiga conforme meus planos. Uma escolha diferente e eu teria nas mãos uma história totalmente diversa, talvez com mais sofrimento e mortes, não saberia dizer. É a decisão da personagem nesse ponto que me faz conduzir a história para o final programado, em que geralmente há pelo menos uma esperança de felicidade futura.

E Toni se aproxima desse momento, em que todos seus valores éticos e morais serão postos à prova. Já contei na sinopse que ele vai encontrar Letícia, “uma moça rica, que pode ajudá-lo, se ele também estiver disposto a ajudá-la”. Que proposta é essa que ela tem a fazer? Será que Toni vai aceitar? Se ele aceitar, o que acontecerá? E se ele não aceitar, o que acontecerá? É claro que eu sei o que vai acontecer, o que ele vai escolher. Mas é claro também que não posso contar antes da hora chegar.

domingo, 11 de março de 2012

LIVROS QUE MARCARAM MINHA VIDA

É difícil chegar a uma lista resumida de todos os livros que foram importantes na minha vida, pois cada um marca de alguma forma, seja com um “adorei”, seja com um “não gostei”, seja com um “não consigo ler até o fim”. É claro que, a essa altura da vida, eu não me lembro mais de todas as tramas e de todas as personagens que já encontrei nos livros, mas tenho ainda a lembrança do sentimento que alguns livros me provocaram. Como este é um blog para falar de literatura, vou destacar apenas alguns livros que eu considero importantes para o meu processo de criação e escrita.

Sempre que me perguntam por livros marcantes, o primeiro que me vem à mente é O morro dos ventos uivantes de Emily Bronté. É uma história em que não é possível o final feliz que sempre se espera. Heathcliff, o protagonista, é um mau-caráter redimido por sua paixão quase doentia, o que o torna cativante e adorável. É um dos poucos livros que li várias vezes, e cada vez que leio renovo minha paixão a Heathcliff e Cahty e ao turbilhão de emoções que preenchem o livro.

Importante também foi Sem família de Hector Malot, que conta a trajetória de Remígio, uma história de perdas, com final feliz só mesmo lá no final, e personagens secundárias cativantes: mamãe Barberin, Vitale, Capi, Mattia, Lisa. Foi talvez quem me ensinou a tratar com carinho também as personagens secundárias, e sempre acenar com a esperança no final feliz, por mais tristes que sejam os acontecimentos do início e do meio da história.

Não posso deixar de citar Os meninos da rua Paulo, de Ferenc Molnár, uma história sem meninas. Acostumada aos romances em que sempre havia personagens masculinas e femininas, tanto principais como secundárias, e em geral um par romântico, foi algo que me marcou muito: é possível fazer uma história interessante sem romance (embora eu sempre tenha o par romântico nas minhas histórias). Ainda me lembro de Nemecsek repetindo em delírio “eu lutei pela pátria, eu morri pela pátria”. Mas já não lembro que final teve esse bravo e frágil herói.

“Nascera com o dom de rir e a idéia de que a humanidade é louca”. Assim começa Scaramouche, de Rafael Sabatini, o livro que me ensinou a fazer romance histórico. Costumo dizer que tudo o que sei sobre Revolução Francesa e seus desdobramentos eu aprendi com Scaramouche. Sabatini intrinca sua história fictícia de tal forma na história real que faz André Louis Moreau participar de todos os momentos importantes da história da França daqueles anos. É algo que geralmente tento fazer nos meus livros também.

Lord of the flies (O senhor das moscas), de William Golding, talvez não teria sido marcante, se não tivesse sido analisado no curso de formação de professores do Ibeu. É muito importante entender as ferramentas eu o autor usa para construir seu texto. Assim aprendemos o que está disponível para ser usado. Com Golding, aprendi como usar deus-ex-machina, caracterização por detalhes, intensificação da ação, clímax, de maneira que consiga passar a mensagem da forma que quero.

E não posso deixar de citar algumas obras de meu querido José de Alencar: Cinco minutos – um romance curto, e não um conto longo; Encarnação – precursor de outras obras com o mesmo tema: Rebecca, de Daphne du Maurier e A sucessora, de Carolina Nabuco; A pata da gazela; O guarani; O tronco do ipê – todos meus favoritos. Aprendi também com O sertanejo e com O gaúcho que não gosto de descrições longas, mas de diálogos, que também servem para se fazer descrições, de uma forma mais leve e interessante.

Mas antes de ler tudo isso, meu imaginário foi formado por contos infantil, principalmente os de Hans Christian Andersen, em especial A sereiazinha, Polegarzinha, O soldadinho de chumbo, O rouxinol do imperador, Os cisnes selvagens; os recolhidos e compilados pelos Irmãos Grimm, com destaque para Cinderela, Rapunzel, A bela adormecida, Branca de Neve; e também A bela e a fera, de Gabrielle-Suzanne Barbot, Dama de Villeneuve.

Os livros mais importantes na minha trajetória de escritora são esses, e como eles participaram da minha formação. Os livros importantes na minha vida de leitora formam uma listagem muito maior, e seria objeto de várias postagens. Vamos deixar para outro momento.

quinta-feira, 1 de março de 2012

CRÍTICA LITERÁRIA

Não pretendo explicar aqui o que é crítica literária, nem como se faz. Afinal, não sou crítica, sou escritora. Quero falar dos novos escritores, e de como eles reagem às críticas recebidas.

Hoje em dia, com a Internet, é muito fácil disponibilizar para o mundo o que se escreve: basta construir um blog, o que é simples, já que até eu consegui montar um. E, após fazer o blog, o autor cuida de divulgá-lo em comunidades literárias, onde outros novos escritores e escritores mais antigos se encontram. Os jovens escritores – em geral jovens de idade e jovens de métier – buscam comentários para seus textos. Querem saber o que está bom e o que está ruim, como podem melhorar. Mas, muitas vezes, eles têm tanta convicção de seu valor pessoal e literário (o que é natural, afinal, ninguém está escrevendo algo ruim) que não conseguem lidar com uma opinião negativa, ou ficam travados ao descobrirem que cometem erros gramaticais, e que seu texto maravilhoso não está bom. Os mais imaturos culpam a crítica, alegando que o leitor não entende nada de literatura e, por isso, não soube apreciar a perfeição que foi escrita. Outros, mais maduros mas que escrevem por diversão e não por necessidade, percebem que não levam jeito para “a coisa” e desistem da carreira, antes mesmo dela começar. Vão arrumar um emprego e cuidar da vida, que “essa coisa” de escrever, ainda por cima, nem dá dinheiro. Só alguns poucos, os verdadeiros escritores, vão se decepcionar com o próprio texto, duvidar do próprio talento, pensar, refletir e crescer. É como se a crítica derrubasse todos, mas só alguns conseguissem se levantar. E, quanto mais você cai, mais forte você se levanta, e vai ficando cada vez mais difícil cair de novo – a crítica também tem que melhorar muito para conseguir promover naquele autor um novo momento de parada e reflexão.

Participo de vários grupos de discussão e comunidades de literatura no Facebook, no Orkut, no Skoob, e ainda alguns independentes (como o Escreva seu livro, meu favorito) e tenho visto muitos casos de adolescentes e jovens que resolveram escrever um livro. Fico a me perguntar quantos desses são escritores de verdade, e quantos desistirão ao ouvirem pela primeira vez “você precisa melhorar isto, isso e aquilo”. Tenho lido textos desses jovens autores, e percebo talento em vários deles: uma narrativa empolgante, uma trama instigante. Mas, como é improvável alguém ser brilhante logo no primeiro texto, muitas vezes falta uma caracterização consistente para as personagens, a contextualização pode estar fraca, os diálogos não acrescentam nada, para ficar só em alguns aspectos literários, pois considero correção gramatical uma obrigação óbvia. Fico triste quando vejo um desses desistir, deixar o blog largado e sumir das comunidades. Mas, por outro lado, fico feliz quando um outro comenta que está estudando e melhorando o texto. Diante disso, a crítica acaba funcionando como um filtro, que descarta os fracos e dá convicção aos fortes.

É tão bom ter pares com quem trocar idéias... Quando eu comecei, não encontrei um escritor experiente para ser meu mentor, que apontasse minhas fraquezas, que me mostrasse o quanto eu precisava melhorar. Fui forçada a desenvolver a autocrítica e ser mentora de mim mesma. Ler, reler, analisar, criticar, apontar todos os defeitos, destruir as personagens, destruir a trama, destruir o texto, jogar tudo fora. Apanhar de alguém dói bastante. Apanhar de si mesmo dói mais ainda. Mas, quando você aprende a destruir seu próprio texto, fica mais fácil saber construí-lo direito. Você desenvolve seu estilo com o que você acha certo, sem dependência de uma opinião externa.

Como tenho lido e comentado textos de autores mais jovens, me sinto um pouco mentora deles também (ou tutora, como disse um deles). Fico feliz com esse papel, pois me dá oportunidade de ajudar outros autores a se tornarem escritores melhores. Ah, a vaga de meu mentor ainda está aberta para escritores tão ou mais experientes do que eu. Alguém se habilita? Aceito também críticas e opiniões de autores menos experientes e de leitores, afinal, todo mundo sempre tem algo para ensinar e eu ainda tenho muito para aprender e crescer.

Outros textos interessantes

Um pouco sobre mim

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Mestre em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se à literatura desde 1985, escrevendo principalmente romances. É Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia - Casa Raul de Leoni desde 1998 e Membro Titular da Academia de Letras de Vassouras desde 1999. Publicou oito romances, além de contos e poesias em antologias. Desde junho de 2009 publica em seu blog textos sobre seu processo de criação e escrita, e curiosidades sobre suas histórias. Em 2015, uniu-se a mais 10 escritores e juntos formaram o canal Apologia das Letras, no Youtube, para falar de assuntos relacionados à literatura.

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