quinta-feira, 11 de agosto de 2011

JORNADA DO HERÓI

Pesquisando daqui e dali, visitando blogs de meus amigos, encontrei referência a um certo tipo de estrutura, usado especialmente para contar histórias fantásticas, que se chama Jornada do Herói (explicações aqui e aqui). Nas minhas histórias, a Jornada está relacionada a situações de exílio, que expliquei aqui. Os elementos dessa Jornada do Herói, com as devidas adaptações ao meu estilo e ao tipo de trama que eu conto, estão nitidamente presentes em sete das minhas histórias: Pelo poder ou pela honra, O maior de todos, Primeiro a honra, Amor de redenção, Fábrica, O canhoto, Rosinha.

Há duas diferenças importantes entre a Jornada do Herói e a estrutura dessas minhas histórias que de alguma forma acompanham esse modelo. Uma é a atuação do Mentor, que surge para encorajar o herói e entrar no mundo mágico. Nas minhas histórias, o Mentor em geral aparece depois que o herói já está fora de sua realidade, justamente para ajudá-lo a sair. E a segunda diferença, relacionada a essa primeira, é que minhas personagens não têm medo de enfrentar a Jornada, e não precisam de ajuda para entrar nesse “mundo mágico”- no meu caso, algum tipo de exílio – porque são jogadas dentro dele à força. Me faz lembrar da Divina Comédia, em que Dante de repente se vê na floresta escura (já é exílio) e Virgílio lhe aparece (Mentor) para guiá-lo até a nova realidade (Paraíso), embora passando pelos caminhos mais difíceis e sofridos (Inferno e Purgatório). É mais ou menos isso o que acontece nas minhas histórias: a personagem é forçada a algum tipo de exílio (ou por algum motivo o procura), onde encontra um Mentor para ajudá-la a amadurecer, resolver seus problemas e voltar.

Outro aspecto interessante de destacar é que nem sempre o herói da jornada é a personagem principal, como é o caso de O maior de todos, que tem Curt como personagem principal mas é Karl quem enfrenta a busca por si mesmo. Também é interessante o caso de Ninette, em Pelo poder ou pela honra, que supera a maior crise, enfrenta a morte, vence o medo mas perde o elixir. Quando fui ver se Nicolaas passava por essas etapas, tive dificuldade em definir os eventos de cada etapa e conclui que ele, na verdade, enfrenta três jornadas de uma só vez: uma de caráter religioso, com Maurits como Mentor e a superação do passado como Elixir; a segunda é pessoal, com Miguel como Mentor e a superação do sinistrismo como Elixir; a terceira é social, com Frans como Mentor e a Cruzada como Elixir. São três jornadas entrelaçadas, e as etapas de cada uma não acontecem ao mesmo tempo, mas cada uma em seu momento dentro de cada jornada.

É interessante pensar como essa estrutura está relacionada a uma espécie de inconsciente coletivo cultural uma vez que, mesmo sem buscar por ela, muitos escritores – eu inclusive – acabam por encontrá-la. Também é interessante que uma estrutura característica de romances de fantasia possa ser usada com sucesso em outros tipos de romances.

3 comentários:

  1. Boa Tarde Mônica!!
    Desculpa ver sua pergunta no BABYSTEPS e não recordo de tê-la respondido:
    Os sapatos de amarrar lembram-me sandálias..
    A FLYLady criou essa regra devido a um treinamento que ela teve na época que era revendedora da Mary Kay - lá eles diziam, que mesmo que você não vai trabalhar na rua, tem que vestir-se como tal para avisar ao cérebro que está pronta para o trabalho... Se você não se veste para tal, quando atende um cliente ele percebe o desânimo..
    Para coroar, o sapato tem que ser "de amarrar" para você ter preguiça de tirá-los e ter que colocar novamente...
    Bjins

    ResponderExcluir
  2. Boas, e obrigado pelos comentários aos meus textos! A minha jornada do herói, bem eu tento, por assim dizer, mostrar...como dizer, pouca moralidade nas minhas personagens, mas, como você diz, ando em circulos a bater no mesmo ponto, obrigado pelo comentário!

    ResponderExcluir
  3. Oi Mônica! Desculpe a intromissão, não te conheço e não sei como vim parar aqui no seu blog. Só fiquei com vontade de adicionar um comentário porque leio à algum tempo textos de Campbell e acho que ele não pode ser reduzido a uma simples linha narrativa. A jornada do herói é um elemento de roteiro básico encontrado em diversas lendas e mitos antigos que revelam uma tentativa de se expressar o transcendente e por isso precisa ser percebida de outra maneira além da literária. Tudo pode ser melhor compreendido através deste documentário http://vimeo.com/16395054
    Abraços

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Outros textos interessantes

Um pouco sobre mim

Minha foto
Mestre em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se à literatura desde 1985, escrevendo principalmente romances. É Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia - Casa Raul de Leoni desde 1998 e Membro Titular da Academia de Letras de Vassouras desde 1999. Publicou oito romances, além de contos e poesias em antologias. Desde junho de 2009 publica em seu blog textos sobre seu processo de criação e escrita, e curiosidades sobre suas histórias. Em 2015, uniu-se a mais 10 escritores e juntos formaram o canal Apologia das Letras, no Youtube, para falar de assuntos relacionados à literatura.

Quer falar comigo? É aqui mesmo.

Nome

E-mail *

Mensagem *

Amigos leitores (e escritores)