Aprendi a fazer romance histórico com o livro
Scaramouche, de Rafael Sabatini. Faz quase trinta anos que li (e ando morrendo
de vontade de reler) e ainda lembro da primeira frase, que sintetiza o caráter
do protagonista, André Louis Moreau: “Nascera com o dom de rir e a ideia de que
a humanidade é louca” – ou algo parecido.
O livro foi escrito em 1921 e ambientado durante a
Revolução Francesa (1789-1793) e esse lapso temporal entre a época de escrita e
a época da ação é fundamental para a conceituação de um romance como histórico.
Sabatini foi brilhante ao intrincar sua história fictícia aos eventos históricos
que derrubaram a monarquia na França. André Moreau participa dos
acontecimentos, encontra as pessoas reais e interage com elas. Não interessa
muito se as pessoas fizeram aqueles gestos ou falaram aquelas palavras:
Sabatini criou dentro das características dessas pessoas conforme registrado
pelos estudiosos, então elas são totalmente reais, verossímeis.
Embora eu me considere uma boa aluna, essa construção
interligando realidade e ficção não é fácil de fazer. Eu comecei a tentar fazê-la
nos meus romances em 1991 (já com seis anos de prática de escrita), no romance Uma antiga história de amor no Largo do Machado mas só consegui fazer que
minhas personagens andassem por uma cidade real com pontos de referência
existentes. O marco importante é Construir a terra, conquistar a vida (1996), em que minhas personagens participam ativamente dos eventos da história
da cidade e interagem com pessoas que existiram de verdade. Mas ainda não era o
intrincamento que eu consegui fazer em De mãos dadas (2009). Toni não
apenas participa dos eventos mas também é arrastado por eles, como num turbilhão
incontrolável. Diferente de Duarte, que constrói os eventos com seus concidadãos,
Toni é vítima dos acontecimentos. Duarte esforça-se para participar da História,
enquanto Toni quer escapar dela para apenas trabalhar e viver em paz.
Acho que agora aprendi realmente a lição do mestre
Sabatini. Mas não sei quando terei oportunidade de praticar novamente, pois a história de Rodrigo, que estou
escrevendo agora, não pede esse tipo de estrutura histórica, nem a história que
pretendo escrever em seguida, que vou chamando de Amnésia até dar-lhe um título. Mas, quando eu tiver uma outra trama
histórica para escrever (e isso não quer dizer ambientar a história no
passado), eu já sei que ferramentas usar para interligar ficção e realidade. Obrigada
duas vezes, Rafael Sabatini: pela experiência prazerosa que tive ao ler
Scaramouche, e pela aula de como fazer um romance histórico.
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