Um colega do fórum Escreva Seu Livro que está lendo todos os meus livros chamou minha atenção para os
ambientes às vezes restritos onde ponho minhas personagens para interagir. É
uma observação curiosa, pois uma das características do gênero romance é a
pluralidade de ambientes.
No meu texto comemorativo de
26 anos de carreira, contei como é possível dividir minha trajetória em quatro
fases, e as características de cada uma. Um dos diferenciais para essa divisão é
justamente o trabalho da ambientação. As duas histórias da primeira fase – O destino pelo vão de uma janela e O processo de Ser – realmente acontecem num ambiente bastante restrito: a
residência da personagem e seus arredores, sendo que as cenas que acontecem na
residência predominam. O mesmo se pode dizer das histórias da segunda fase – Pelo poder ou pela honra, O aro de ouro, Nem tudo que brilha... Nesses casos, o
ambiente é como uma personagem figurante, pouco detalhada e pouco importante.
Quando chega a terceira fase
– O maior de todos e Primeiro a honra – o ambiente começa
a se expandir, os “arredores” tornam-se importantes e o espaço passa a ser
trabalhado com mais detalhamento. Em O maior de todos, o castelo e a vila
são macro-ambientes com pequeninas sub-divisões: os cômodos no castelo; a casa
e as ruas na vila. Primeiro a honra tem três grandes focos: Orléans, Paris,
Soissons, que marcam momentos importantes na história. Só Paris tem sub-divisões:
a casa e a floresta. É o ambiente se tornando personagem secundária.
A quarta fase é curiosa
pois, ao mesmo tempo que começa com Construir a terra, conquistar a vida,
em que a cidade e seus eventos são personagens importantes também, tem A noiva trocada e Vingança com ambientes restritos. Não
é sem motivo: essas duas histórias seguem uma estrutura que as aproxima do
conto, gênero que tem por característica os ambientes restritos. Amor de redenção acontece na Espanha e no Brasil e, mesmo quando para no Rio
de Janeiro, há pelo menos dois ambientes bastante importantes, sem contar os “arredores”.
Não é cor-de-rosa é um pouco restrita também, embora haja o mundo de Caty e
o mundo de Alex, a fábrica, a casa, o trem, a praça. O canhoto é desvario,
nesse quesito de ambiente. Quase fico cansada só de pensar em por quantos
lugares Nicolaas passou pois ele saiu de Bruges para a Terra Santa, tendo
morado ainda em Antwerpen, Aachen e Gênova. Rosinha é difícil de
analisar, porque ainda estou escrevendo mas há dois macro-ambientes – São Carlos
e São Paulo – cada um com seus ambientes menores, bastante trabalhados, pois
Toni é do tipo que vai do Tatuapé a Perdizes andando sem nem ao menos se
cansar, então os muitos lugares de São Paulo são bastante presentes. A fazenda vai aparecer em detalhes na fase 3, em que Toni transitará pela casa dos pais,
pela Casa Grande, pelo cafezal, além dos passeios com Rosa. Alcancei a
pluralidade de ambientes que pede o romance.
Penso que venho
desenvolvendo minha habilidade em explorar os recursos cênicos dos ambientes
por onde andam minhas personagens. É um caminho longo e ainda incompleto. Mas
estou aprendendo.
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