Ultimamente tenho pensado como os artistas,
escritores e intelectuais Modernistas (Brasil, início do século XX): para
sermos universais, precisamos primeiro ser nacionais. Por muito tempo, achei
que era bobagem focar nas nossas características nacionais – e, levando ao
extremo, características regionais e até locais. Mas hoje entendo que existe
uma parcela de universal inclusive no local, e as características locais são as
que estão mais próximas de nós, é com quem temos maior intimidade, é o que
sabemos com mais profundidade, o assunto mais fácil de lidar e desenvolver. Eu
descobri que quanto mais se trabalha o pormenor, os detalhes, mais o aspecto
geral aflora. Então, se focamos e damos atenção ao local ou ao regional ou ao
nacional, mais as características do universal se destacam.
Então, colegas escritores, não tenham medo de
escrever sobre seu país, sua região, sua cidade, seu bairro. Há neles um dado
universal que despontará se as características locais forem exploradas ao
máximo. Porque os problemas humanos são comuns a todos, independente de
nacionalidade e de época. Então, minha realidade é apenas um caso especial da
existência humana. Falar do que eu conheço melhor (a minha realidade) é a
ferramenta mais eficiente para abordar as questões de toda a humanidade. E é
assim que, quando um artista ou escritor foca sua produção em sua realidade
mais próxima e pessoal, ele consegue mostrar o que há de universal em cada um
de nós. Falar de um é falar de todos.
MÔNICA.
ResponderExcluirÉ absolutamente inacreditável que, você tenha feito esta postagem e isso depois de nos dar possibilidade de ler sua intelectualísima formação.
Você não sabia que a globalização tornou cada vez mais necessária a descoberta imprecindível, por todos os povos do mundo de conhecerem as características e cada vez mais regionais e locais de outros povos?
Esta é uma constatação de vários intelectuais mundo afora.
Quer um exemplo?
Nunca se vendeu tanto artesanato regional brasileiro para o mundo, assim como nossas frutas nativas,como depois da globalização.
Quer outro exemplo?
Antes da globalização qualquer gringo que vinha ao Rio de Janeiro era levado para casas de show para verem e ouvirem música norte-americana.
Hoje, qualquer um deles querem conhecer as Escolas de samba, os redutos de musicalidade nacional brasileira e nossas culturas próprias e, se agencias de turismo não programam isso, eles exigem conhecerem.
Lamento que você esteja tão desatualizada e principalmente, como professora educadamente pondero,perguntando:
Se você é assim tão desatualizada,imagino os alunos que você forma.
Um abração deste carioca que quis apenas construir e com amor.
Paulo
ExcluirAcho que não entendi seu comentário, ou talvez você não entendeu meu texto. Não estou falando de globalização. O que eu estou chamando de "universal" não é o que você está chamando de "global". São coisas diferentes. Achei engraçado que você diz que estou desatualizada mas demonstra no seu comentário justamente o que diz o texto: como é importante darmos valor às nossas coisas.
Eu talvez fui muito generalista, e não contei a motivação dessa minha reflexão. Vou contar, então: quando eu comecei a escrever, eu gostava de situar minhas histórias em países estrangeiros. Hoje eu gosto de falar da nossa história, das nossas paisagens, das nossas pessoas. Então eu estou num caminho de valorização das coisas nacionais. Desatualizadamente? Talvez. Mas trazer a teoria para a prática nem sempre é fácil, especialmente quando se trabalha com o inconsciente e com o imaginário construído durante a infância. Na verdade, acho muito bom que eu esteja me libertando de amarras fortes de formação de personalidade (que não estão descritas no meu currículo Lattes; menos ainda nessas informações pessoais resumidas do blog), mudando minhas concepções de mundo e, consequentemente, minha forma de escrever. Amadurecer, a meu ver, é sempre louvável, e eu gosto de registrar aqui no blog os caminhos que eu traço. Acho que mostrar meus processos pode ajudar outros autores que possam estar passando por situações parecidas.
Penso que "conhecer as características cada vez mais regionais e locais de outros povos" não significa absorver essas características como suas próprias e saber lidar com elas com naturalidade - qualidades necessárias para criar personagens estrangeiros. Você pode SABER (ou conhecer, como você disse) tudo sobre a história e a cultura de um povo estrangeiro. Mas é quase impossível você SENTIR o que é ser uma coisa que você não é. Daí a importância de criar personagens que façam parte da nossa realidade mais próxima. É mais fácil para mim SENTIR o que é ser paulista do que SENTIR o que é ser francês. Isso é o "nacional" de que falo no texto, que pode ser trazido cada vez para mais perto. Mas tanto o paulista como o francês fazem parte da espécie humana, têm as mesmas emoções, os mesmos instintos - isso é o "universal". Será que ficou mais claro o que eu quis dizer?
E, por último, não estou aqui falando como professora. Não estou aqui ensinando nada. As reflexões que apresento aqui falam do meu lado escritora. É algo muito mais pessoal do que emitir opiniões e tirar conclusões. Estou falando de vivência, de processos mentais de construção de mundo. E não se preocupe com os alunos, porque estou afastada da docência desde 2000. Minhas reflexões são literárias mesmo, e sempre muito pessoais.
Obrigada pelo comentário, que me fez perceber como esses conceitos ainda precisam ser melhor trabalhados e explicados. De repente volto a esse tema em outro texto.
Um abraço