Quando vejo/leio/ouço um escritor ser
entrevistado, além de ficar atenta a suas respostas, fico imaginando que
aquelas perguntas poderiam ser feitas a mim, e fico pensando em que respostas
eu daria. Ouvi uma pergunta este ano que primeiro me deixou surpresa e depois
confusa de como responder – e eu não entendia por que, se era uma pergunta tão
básica. É que, a meu ver, a pergunta está errada. Fiquei refletindo sobre ela
muitas semanas e agora publico aqui a tal pergunta e minha resposta.
P: Quem é a pessoa por trás do autor?
R: Não existe ninguém por trás do autor.
Exercer uma atividade criativa não é como virar super-herói. Ser escritora não
é uma máscara que eu visto, ou uma roupa colante com capa (ou melhor, sem capa,
como recomenda Edna Moda, do filme Os Incríveis). Eu não “viro
escritora” quando pego caneta e papel para escrever. Ser escritora é tudo, é a
pessoa que eu sou. Eu não desligo minha identidade escritora para almoçar ou
tomar banho. Eu não deixo de ser escritora quando vou à ginástica ou ao cinema.
Ao contrário, penso que é nessas atividades de vida cotidiana que minha
“identidade escritora” está mais ativa. Então penso que, na verdade, o que você
quer saber é “o que você escritor faz quando não está efetivamente escrevendo?”
A resposta é muito simples: quando não estou efetivamente escrevendo, estou
vivendo como qualquer pessoa: pegando metrô cheio para ir trabalhar; almoçando;
lavando louça; dormindo; lendo; assistindo a filmes; fazendo dever de casa com
a filha; passeando com o marido; e todas essas coisas de gente normal. Afinal de
contas, todo autor é, antes de tudo, uma pessoa normal.
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