É claro que eu já tinha ouvido falar no Rei Artur e seus Cavaleiros da Távola Redonda mas nunca tinha lido nenhum livro com as histórias deles até dezembro de 1988, quando uma amiga minha imaginou uma história em que os cavaleiros se reencontrassem nos dias de hoje, encarnados em outros corpos, e caberia ao Rei Artur identificá-los, encontrá-los espalhados pelo mundo e reuni-los, para restaurar a Távola Redonda e seu reino de Camelot. Ela chegou a me dar a caracterização de algumas personagens, e me deixou livre para criar as outras e fazer todo o percurso da história. Eu achei a idéia interessante e resolvi escrever.
A primeira coisa a fazer foi ler os Romances de Cavalaria para conhecer as personagens e escolher quais usaria na minha história. Comecei a procurar textos, livros e obras relacionadas e encontrei Richard Wagner, e sua ópera Tristão e Isolda, cujo prelúdio se tornou uma de minhas músicas favoritas. Depois li adaptações da história de Artur e dos Cavaleiros, até começar a encontrar os romances nas livrarias. Comprei e li tudo o que pude: 1) romances da época: Chréstien de Troyes (Perceval ou o conto do Graal, Lancelot o cavaleiro da charrete, Erec e Enide, Cligès ou a que se fingiu de morta, Iwain o cavaleiro do leão), Thomas Malory (Morte de Artur), Wolfrand Von Eschenbach (Parsifal), Robert de Boron (Merlin), A morte do Rei Artur, de autor anônimo, e ainda Afonso Lopes Vieira (O romance de Amadis); 2) romances organizados nos tempos modernos, a partir de textos medievais: Joseph Bédier (Romance de Tristão e Isolda), Dorothea e Friedrich Schlegel (A história do mago Merlin); 3) um estudo de Jean Markale (Merlin, o mago)
A lista de cavaleiros aumentava e diminuía, à medida que eu lia: aumentava porque eu queria incluir todos os que eu achava interessantes; diminuía porque eu entendia que só podia ficar com os principais. Criei também uma personagem não prevista pela minha amiga: Richard Crawford, um jovem aficcionado pela Távola Redonda para ajudar Artur em sua missão.
Como já citei aqui, em 11 de agosto, no texto sobre as histórias encomendadas, esta história se passava no futuro – no caso, o que era futuro quando ela foi criada: começava em 1997 e terminava em 2001, mais precisamente no dia 1/1/2001, o dia-mês-ano-década-século-milênio em que a vida de todos os envolvidos mudaria, pois seria quando Artur voltaria a reinar sobre a Inglaterra. Eu queria que as pessoas lessem com a expectativa de que o que eu escrevi realmente aconteceria, e esperassem pelo dia 16/4/1997 (o dia em que eu digo que Artur volta de Avalon para recuperar seu reino) para saber se de fato ele voltaria: se eu tinha apenas contado uma história ou feito uma profecia. No fim, só eu acompanhei as datas, esperando para ver se algum jornal noticiava a volta de Artur ao nosso mundo. Mas a História é muito cruel e nunca registra a passagem das minhas personagens pelo mundo e seus feitos notáveis. De qualquer forma, para mim, o dia 16/4 se tornou o Dia de Artur, quando lembro que ele voltou de Avalon, e Richard Crawford o ajudou a encontrar os Cavaleiros da Távola Redonda e a recuperar o Santo Graal para, com ele, conquistar o poder sobre a Bretanha e sobre todo o mundo. É uma pena que os historiadores não tenham registrado tudo o que aconteceu entre 1997 e 2000.
De tanto ler, fiquei impregnada com o estilo dos escritores e com o tipo de história que eles escreveram, e acabei criando, em 1989, Sir Haliwain de Nova Gália, um herói cavaleiresco capaz de competir com Sir Lancelot do Lago e Sir Tristão de Leonis, os melhores cavaleiros do mundo de acordo com todos os Romances de Cavalaria. Haliwain liberta donzelas, defende a justiça, persegue e vence os maus cavaleiros.
Achei que ia ser um caso isolado mas, em 1994, aconteceu de novo, e eu criei Sir Linart da Bretanha, o inverso do ideal da Cavalaria: um cavaleiro fraco, arrogante, que busca justiça em forma de vingança, com defeitos que não cabem num bom cavaleiro. No mesmo ano, fechei a trilogia, ao criar Sir Daluvian de Penthièvre e Sir Denevole de Norfolk, cavaleiros-cantores que dão mais valor à poesia do que aos combates. Enquanto Haliwain vence todos os combates, Linart perde todos, e Daluvian e Denevole preferem não lutar – mas, quando lutam, vencem. Comecei com o estereótipo e depois fui subvertendo o modelo.
Infelizmente, eu acabei de ler os Romances de Cavalaria, e a última história ficou incompleta pois perdi o pique do estilo. Mas gosto do projeto e considero-a sobrevivente, aguardando o momento de ser completada.
A questão é que, antes de ler os Romances, eu ouvi Wagner e me encantei. Então minha história preferida se tornou Tristão e Isolda, e o cavaleiro preferido, Sir Tristan de Leonis. Na impossibilidade de criá-lo, restou-me louvá-lo através de outros cavaleiros. Então os três “romances de cavalaria” que escrevi são uma forma de homenagear meu cavaleiro favorito. Ele aparece nas três histórias em posição de destaque, de forma que suas qualidades cavaleirescas sejam destacadas, e a irreversibilidade de seu amor sem culpa pela Rainha Iseu (prefiro a grafia em português arcaico). Não sou poeta, mas escrevi um poema para ele, que será publicado no livro que reúne as poesias que ousei fazer. E se por acaso não ficou óbvio nos romances que minha intenção era louvá-lo, acabo de confessar aqui esse amor irrestrito, infinito, ideal, irreal, impossível e, portanto, inútil.
Oh. Obrigado por visitar o meu blog. E desculpe pela demora, eu mesmo deixei o blog abandonado. Complementei a história do Duas Luas, ela já está no final... na verdade eram para ser diversas histórias envolvendo o mistério de duas Luas. Mais na verdade ainda... eu escrevi o Duas Luas pra descontrair, não tava animado para escrever, então eu fui escrevendo qualquer coisa e publicando, só por diversão e descarrego =P
ResponderExcluirDe qualquer forma, fico muito agradecido por você ter gasto o seu tempo lendo a minha... humm... pseudo-história-para-jogar-no-lixo-e-queimar XD
De qualquer forma, eu li esse último post, achei interessante a proposta, talvez seja o caso de você trazê-los para a época moderna (atual) mas sem apresentar data... e sem falar que 2012 tá chegando... quem sabe Arthur não seja a sexta raça dita pelos Mayas em sua mitologia incorporada pela Gnoses Hiperbórea... Enfim... não sei se você chegou a ler, mas eu ia fazer uma história sobre Avalon e acabei achando uma fonte interessante. Ninguém sabe se o Rei Arthur realmente existiu, porém toda a lenda criada por Cornwell sobre Arthur, não apenas por ele, mas pelos próprios story tellers antigos, surgiram de um padre que escreveu um livro sobre os Reis da inglaterra. Ele colocou todos os reis que passaram pela inglattera em seu tempo e misteriosamente o nome de Arthur surgiu, sobre a lenda de Ynis Wyrdir (acho que era assim que escrevia) e muitas coisas que envolve Avalon, Arthur, Merlin e a dama d'agua. O nome do livro chama The History of the Kings of Britain e o autor é Geoffrey of Monmouth. Aqui no Brasil não existe, existe apenas uma versão traduzida em inglês e a versão original em Latim.
Bom... acho que é isso... Quem sabe logo você não retorne a história o.O
Oi, Mônica, obrigado pelo comentário sobre o post "como se desenvolve a criação". Agora voltei de férias e retomei os contatos. Ah, gostei muito do teu blog e analisei bem os teus procedimentos de pesquisa para fazeres os teus romances. Belo aprendizado. Se puderes, dá uma olhada no meu blog "http://letras-livres.blogspot.com. Ficarei muito honrado, principalmente se enviares algum comentário, pois a tua experiência na literatura é muito valiosa. Um abraço. Gilson.
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