É preciso reconhecer que muitas vezes não é possível ter todas as idéias originais. Muitas vezes, faço releituras de obras que já existem – livros, músicas, filmes, tele-novelas. Naturalmente não pretendo imitar as obras originais, mas justamente experimentar finais diferentes, mudar o ambiente, alterar aspectos de caracterização das personagens. É algo que comecei a fazer ainda em 1986, e é uma prática que me rendeu 28 histórias, das quais são sobreviventes Nem tudo que brilha..., Amor de redenção e o Ciclo de Kerdeor (Romance em prosa do Cavaleiro de Nova Gália, História da vingança do bretão, Aventuras dos Cavaleiros Cantores). É interessante que muitas vezes o nome da história é também o nome da obra em que foi inspirada – sinal de que quis manter a referência com o original. Vou citar aqui apenas as histórias descartadas, uma vez que a explicação das histórias sobreviventes já foi feita em textos próprios.
Baseadas em filmes, tenho: 1) Viagem à lenda da concha, de 1986, como os filmes juvenis da época, em que grupos de crianças e adolescentes vivem aventuras. Há também uma certa inspiração no livro Viagem ao centro da terra, de Jules Verne; 2) O circo, de 1987, inspirado em Trapézio, de Carol Reed; 3) Luzes da cidade, de 1995, como a de Charles Chaplin; 4) Nunca te vi, de 1988, como o filme de David Hugh Jones; 5) Simultaneidade, de 1995, é baseada em Uma noite alucinante, de Sam Raimi, que eu gravei por engano e assisti em FastForward, procurando o filme que eu queria ter gravado, e baseada em Alone in the Dark, jogo para computador, numa versão para DOS ou Windows 3.1, que eu conheci em 1993.
Baseada em livros, tenho: 1) Alan e as sete brancas-de-neve, de 1986, numa inversão subversiva do conto infantil; 2) Gêmeos, de 1987, inspirado em Os irmãos corsos, de Alexandre Dumas; 3) Rebecca, de 1987, inspirada no livro homônimo de Daphne du Maurier; 4) Crime e Castigo, de 1991, com um final diferente para a trama de Fiodor Dostoiewsky; 5) Senhora, de 1993, como a de José de Alencar; 6) A megera domada, de 1996, baseada em William Shakespeare; 7) A Bela e a Fera me rendeu duas versões, uma em 1996 e outra em 1997. Alterei a caracterização da Fera e a ambientação da história. Gosto do resultado, mas ainda não o bastante para escrever; 8) Europe também tem duas versões, uma de 1994 e outra de 2003, e a fonte é o conto Europe (falta-me o nome do autor!), com uma pitada do filme Como água para chocolate, de Alfonso Arau; 9) Solitário, de 2003, é inspirada na história de Santo Onofre, contada por Eça de Queiroz; 10) Luz, de 1988, se inspirava em David Copperfield, de Charles Dickens; 11) A casa bem assombrada, de 1989; Chuva, de 1986 e A morte não basta, de 1992 são todas baseadas em O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë.
Baseadas em música, tenho 1) Virgem do templo, de 1996, baseada na ópera Norma, de Vincenzo Bellini; 2) I drove all night, de 1994, como o clipe da música de Roy Orbison; 3) Dona, de 1994, inspirada na canção do grupo Roupa Nova.
Baseadas em arte, tenho 1) Desastres da guerra, de 1997, inspirada na série de gravuras de Francisco de Goya y Lucientes.
Muitas vezes, faço essa opção de utilizar uma ideia de outra pessoa para passar o tempo, como uma brincadeira; outras vezes, estou mesmo testando se consigo fazer diferente com a mesma qualidade do que já foi feito (e consagrado). A verdade é que eu invento muito mas escrevo pouco: sou muito crítica com o que faço. Se não fico 100% satisfeita, a história acaba descartada ou, com sorte, fica suspensa, esperando eu modificar até considerar boa.
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