Tenho
que confessar que exagerei um pouco quando disse que, a partir da chegada de
Letícia, todas as cenas estavam exaustivamente elaboradas até o final da história.
O que acontece, para ser mais precisa, é que, a partir da chegada de Letícia, há
mais cenas importantes para a estrutura da trama – estas, sim, foram criadas,
recriadas e repetidas muitas vezes. Os momentos fundamentais estão bem
detalhados, mas há cenas intermediárias de menor importância – e estas não
foram elaboradas exaustivamente. Então, ainda estou sujeita a momentos de
indecisão, de não saber como conduzir o texto, para chegar na próxima
cena-fundamental-exaustivamente-elaborada. Outras pessoas chamariam de “branco”
mas eu não tenho “brancos”, tecnicamente falando. Meus momentos de indecisão
seriam mais próximos de um “cinza 70%”, pois eu só tenho que pensar qual é o próximo
evento fundamental, ordenar os eventos intermediários, e escrever todos.
Um
exemplo dessa não-elaboração-exaustiva de todas as cenas é a presença de Toni
na Semana de Arte Moderna. Não é um trecho fundamental para a história, então
eu só tinha de certo que ele estaria presente. Acabei fazendo um texto
descritivo (e um pouco didático) do que foi a Semana de Arte Moderna, quais os
eventos, quem eram os artistas (meu lado historiadora da arte não resiste nessas
horas) mas tive que deixar espaços em branco, porque a programação completa da
Semana de Arte Moderna está num arquivo no computador e, se meus leitores bem
se lembram, eu escrevo a mão. Ou o computador está ligado, ou eu estou
escrevendo. São atividades excludentes, e ainda não juntei as duas, para
preencher os buracos no texto, que não são poucos, pois houve palestras e/ou
concertos em três dias, e é óbvio que eu não decorei a programação para narrar.
Então
a Semana de Arte Moderna acabou, e já estamos no final de março. Toni está
passando por algumas transformações, deixando de lado algumas características
do Toni da primeira fase e se tornando o Toni da segunda fase. Com isso, ele
perde aspectos da própria identidade. É interessante fazê-lo mudar
gradativamente, um processo que para ele é imperceptível, e que ele só vai
perceber quando chegar à terceira fase.
Quando
eu escrevi o texto exagerado, eu estava no meio do turbilhão, com uma seqüência
grande de cenas fundamentais para escrever. Agora estou num momento mais calmo,
por isso reconheço o exagero daquela vez. Como estou sempre elaborando com
antecedência, muitas vezes tenho pensado em cenas da terceira fase, e também
fico com a impressão de que só ali é que a história vai realmente começar, pois
será quando o conflito principal vai ser finalmente abordado, em conjunto com
outros sub-temas, que estão sendo construídos na primeira e na segunda fases. A
verdade é que são pontos de virada, pequenos momentos de clímax para manter o
leitor interessado e atento.
Estou
chegando à página 200... e ainda tenho muito para contar...
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