Desde
que chegou a São Paulo, Toni tem estado cercado por mulheres. Desde Dona
Luizinha, que o hospedou em sua casa, e o trata como a um filho, até Júlia, que
ainda não entrou na história mas será alguém com quem Toni terá um vínculo
forte. Outras três são Janaína, Raquel e Letícia, amigas que em algum momento
da trama têm atitudes importantes e decisivas. Há ainda Ana Paula, vilã
declarada, e Nara, secundária que será de grande ajuda para Toni na terceira
fase. Enquanto isso, embora ele more numa pensão com mais sete rapazes, o único
amigo realmente é Luigi. Alberto também tem certa importância mas não chega a
ser determinante.
Essa
característica ainda não tinha sido tão notável em nenhuma outra história. Os
amigos, em geral, são do mesmo sexo que o protagonista, pois acredito que há
mais afinidade de amizade entre pessoas do mesmo sexo. Penso que, em geral,
fazemos confidências íntimas a pessoas que compartilham conosco certos modos de
ver e entender o mundo – e penso que essa é uma das diferenças fundamentais
entre homem e mulher. Pares românticos não entram nessa conta, pois é outro
tipo de relação. Cada história tem sua característica própria. O destino pelo vão de uma janela é marcada pelos companheiros de infância
do protagonista Gustave: Marcel e Jacques. Em O processo de Ser, a
personagem extra é Piotr, mesmo sexo de Ilya, e seu contraponto. Em Pelo poder ou pela honra, curiosamente (e eu não tinha parado para pensar
nisso), a protagonista é mulher e as personagens determinantes são todas masculinas: Estienne, Fréderic, Jules, Pierre e Antoine – o mesmo que agora percebi
na história de Toni, só que ao contrário. O aro de ouro e Amor de redenção não têm
personagens extras determinando a história: tanto Lucas como Ágila constroem
seu próprio destino, sem ajuda externa. Nem tudo que brilha... repete Pelo poder ou pela honra: protagonista feminina cercada de homens: Roberto,
Marcos, Vicente, embora a personagem realmente determinante seja Cecília,
mulher como a protagonista Isabel. O maior de todos é uma história de
homens, e as mulheres são secundárias. Em Primeiro a honra, Rosala tem
Constance, Berta, Adèle e Atilde a marcarem seu destino, mais do que Lanrose, Toulière
e Archibald (pares românticos não contam). Em A noiva trocada, Henrique
é ajudado por Pedro, Amândio e Miguel. A grande marca de Construir a terra, conquistar a vida é a amizade entre Duarte e Fernão. Rodrigo, de Vingança,
não tem amigos, pois é um vingador. Em Não é cor-de-rosa, Caty tem as amigas Lúcia e
Isabel, com quem troca confidências. Nicolaas é exagerado como Toni, no sentido
de ser cercado por personagens que interferem em seu destino, mas são todos
homens: o pai François, o irmão Robrecht, os amigos Maurits e Miguel, o abade
do mosteiro de Ten Duinen, Irmão Willem, o Conde de Flandres, Laurent, os
Filhos de Flandres. A única mulher de maior expressão (ressalto de novo que
Ester não conta) é a mãe Hannelore.
Penso
que essa diferenciação reflete as diferentes questões e temas abordados nas histórias: quando o tema é mais intimista, em que o conflito da personagem é com ela
mesma, ou entre seus desejos e as normas sociais, há menos personagens externos
determinantes; quando o tema é mais social e relacional, quando a personagem
deseja construir na sociedade – ou, em outras palavras, apenas levar uma vida
normal, ela é sofre mais influência de outras pessoas. Mas o que faz eu
escolher cercá-la de pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto é
algo que ainda merece maior reflexão para que eu possa tentar chegar a uma
resposta ao menos aceitável.
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