quinta-feira, 11 de outubro de 2012

KARL E CURT / CURT E KARL


 São as personagens de O maior de todos que disputam o poder sobre o pequeno e frágil reino germânico de Durpoin. Quando eu sonhei essa história, Curt era a personagem predominante, que tinha que influenciar o Rei para salvar Lisbet, depois do acidente com a Rainha. Karl era apenas um menino com uma coroa na cabeça, alguém que não resistiria à persuasão de Curt. Senti a confiança de Curt em seu próprio poder, apesar das circunstâncias, e resolvi escrever a história para mostrar isso.
Quando eu escrevi essa história, Curt era a personagem principal, o protagonista, aquele que conduz, não apenas a trama, mas também o destino do reino e das pessoas que estão nele. Ele era o poderoso Curt Legrant, o conde que manda no rei, que domina o conselho dos ministros, e cuja palavra é lei. Karl era um jovem frágil, inexperiente, dependente de Curt, ansiando por libertar-se mas geneticamente predestinado à submissão, embora capaz de uma subversão em algum momento.
Quando analisei essa história, vi o conflito entre o grande e o pequeno, vi como Curt e Karl se alteram no poder, e vi que conseguir o que se quer nem sempre é o melhor que pode acontecer a alguém. Na minha leitura, Curt era o protagonista e o antagonista eram as circunstâncias. Karl era um terceiro, sem papel identificado.
Então veio o blog e, para produzir estes textos, novas análises foram necessárias. Explorei os aspectos que eu já tinha observado e fiz novas observações. O primeiro estranhamento foi quando tratei da Jornada do Herói. Outros protagonistas eram ou não heróis, mas aqui quem faz a Jornada é Karl, e não Curt. Depois falei dos protagonistas e antagonistas, e contrapus Curt a Karl em alternância, o que também é estranho, já que Karl não age contra Curt. Mas foi ao analisar os inimigos de confiança que uma nova luz se fez: o protagonista de O maior de todos é Karl. Curt é, na verdade, o antagonista. É Curt quem precisa ser detido em sua sede de poder; é Curt quem se opõe a que Karl reine plenamente, como rei recém-coroado que é. Curt não é um vilão, porque não faz maldades, e tem seus próprios problemas pessoais para resolver, aos quais dedica muita atenção. Mas o objetivo de sua vida é atrapalhar Karl e é isso o que ele faz todo o tempo, no papel de antagonista. E, por fim, quem subjacentemente está conduzindo a trama, quem soluciona o conflito de poder é Karl, num papel de protagonista que vai crescendo ao longo da história.
Dessa nova leitura, surgem novas questões, que vou contando aqui à medida que for conseguindo refletir sobre elas e elaborá-las.

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Mestre em História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dedica-se à literatura desde 1985, escrevendo principalmente romances. É Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia - Casa Raul de Leoni desde 1998 e Membro Titular da Academia de Letras de Vassouras desde 1999. Publicou oito romances, além de contos e poesias em antologias. Desde junho de 2009 publica em seu blog textos sobre seu processo de criação e escrita, e curiosidades sobre suas histórias. Em 2015, uniu-se a mais 10 escritores e juntos formaram o canal Apologia das Letras, no Youtube, para falar de assuntos relacionados à literatura.

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