Tenho
estado preocupada com o futuro de Toni. Não com os eventos que eu vou contar,
mas justamente com o que vai acontecer a ele depois que eu acabar a história. É
muito fácil para mim dizer que a história acaba em 1928, colocar ponto final e
partir para inventar outra coisa. A história acaba, mas não a vida dele. Será
que a Grande Depressão, de 1929, vai atingi-lo de alguma forma? Será que ele
vai perder dinheiro? Será que vai perder o emprego? Onde estará ele durante a
Revolução Constitucionalista de 1932? Será que ele se sentirá impelido a
participar de alguma forma? Será afetado, mesmo se ficar de fora (como
aconteceu durante a Greve Geral de 1917)? Como serão seus filhos? Seus netos?
Como será que ele vai ficar quando velho?
São
dúvidas assim que povoam a minha mente. Mas Toni não é o primeiro, e
provavelmente não será o último. O futuro das minhas personagens depois que a
história acaba é sempre uma preocupação à parte, porque foge ao meu controle.
Eu sei tudo o que vai acontecer com a personagem durante o período da história
mas, em geral, não invento o que vai acontecer fora desse período. Às vezes sei
algumas coisas – por exemplo, que a personagem não vai viver muito tempo mais;
ou que os problemas que ela pensa que resolveu voltarão a atormentar; ou que o
cônjuge querido não é perfeito como se desejava e há conflitos sérios à vista.
Mas não fico detalhando esse tipo de evento, pois não vou contá-los a ninguém,
então às vezes tenho certas angústias por não ter certeza do que vai acontecer
a eles, nem quando, nem como.
Já
aconteceu de eu pensar em fazer uma continuação da história, uma seqüência, num
volume ou título separado – foi com Romance em prosa do Cavaleiro de Nova Gália,
quando eu contaria como o bravo Haliwain se casou com a bela Adriane, como
tiveram filhos, como a vida se tornou rotina e como, por fim, sendo protótipo
de cavaleiro do ciclo arturiano, ele morreu bravamente em combate e,
homenageando Tristão e Isolda, Adriane morreu de tristeza junto com ele. Quando
tudo isso estava delineado e eu tinha a sequência de eventos, desisti: tanto
esforço para escrever um livro só para contar que meu heroi paladino é humano e
morre? Achei que não seria justo para com ele e não levei a ideia adiante.
Outras
duas vezes, eu consegui soluções diferentes: 1) em Amor de redenção mesmo
sem detalhar, eu contei os eventos futuros mais relevantes – tanto que a
história vai até 2047; 2) Construir a terra, conquistar a vida
tem uma estrutura engraçada: os dois primeiros anos têm um ritmo, e depois de
contá-los eu já poderia colocar ponto final e acabar ali a história. Mas ainda
tinha tanto a contar, faltava nascer crianças, faltava decidir a vida de
Fernão... então continuei, detalhando os eventos seguintes, escrevendo e
contando: como nascem os filhos, como a vida se torna rotina, como a rotina muitas
vezes é quebrada, como os filhos crescem, e se casam, e vêm os netos... Quando
enfim pus o ponto final, o destino de todos já estava definido e, de certa
forma, contado, então não havia nenhum resíduo a me angustiar.
Mas
essas três histórias são exceção, e tiveram tratamento diferenciado. A regra
mesmo é eu ficar me preocupando (inutilmente) com o futuro das minhas personagens,
mesmo sabendo que, salvo raras exceções, a essa altura todos os problemas delas
estão resolvidos, afinal estão mesmo todas mortas.
Olá como vai?
ResponderExcluirMe chamo Mylena Araújo e também sou escritora publiquei minha primeira obra (independente) pelo clube de autores e irei publicar meu romance pela editora aped ainda este anos e adorei suas obras são fantásticas, cada uma delas. Meus parabéns.
Visite meu blog e participe também se você quiser é claro, rsrsrs
http://mylenaescritora.blogspot.com.br/